Archive for janeiro \28\-03:00 2011

Para o fim de Semana – Avaliação de IPO´s e muito mais…

Posted on 28/01/2011. Filed under: Finanças |

Aos visitantes e amigos.

Há muitas novidades no blog nessa última semana. Antes de falar delas, vale alguns lembretes:

Atualizações do Blog:

Método INI para Avaliação de IPO´s – Quatro Partes

O Método INI para Avaliação de IPO´s Parte 1

O Método INI para Avaliação de IPO´s Parte 2

O Método INI para Avaliação de IPO´s Parte 3 O que nos diz o Prospecto?

O Método INI para Avaliação de IPO´s Parte 4 Premissas de Futuro

Continuação: Análise Técnica e Análise Fundamentalista – água e óleo

Análise Técnica x Análise Fundamentalista O comentário de um day-trader

Outros posts sobre investimento

A importância dos ratings e o preço das ações

Investir direto em ações, em fundos e clubes ou em ETF´s (BOVA11) Questões tributárias

Dividendos e JSCP do Banestes Atualização

Deterioração das contas públicas Queda de Marcopolo, Randon, Eztec etc.

No Blog do INI: Análises do BB-BI Top Picks 2011 e Início de Cobertura da Cyrela

No Blog do INI: Mudanças Contábeis Material de Consulta

Sugestão de filmes!

Sugestão de filme: O Grupo Baader-Meinhof

Sugestão de Filme: O Equilibrista

Divirtam-se!

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O Método INI para Avaliação de IPO´s – Parte 4 – Premissas de Futuro

Posted on 28/01/2011. Filed under: Finanças |

Até aqui…

Para quem leu as partes 1, 2 e 3, espera-se que:

  • Compreenda o que significa uma empresa “cara” ou “barata”, segundo o P/L
  • Entenda a relação entre o P/L da bolsa e o P/L do custo de oportunidade (Renda Fixa)
  • Assuma que os P/Ls altos (ou baixos) costumam retornar para as médias de mercado e/ou dos setores
  • Saiba extrair os principais fundamentos das companhias a partir da leitura dos prospectos
  • Saiba calcular a estimativa de P/L a partir da leitura dos prospectos

Agora, o futuro

Daqui por diante o que interessa é o que pode acontecer com a empresa no futuro.

Logo o futuro, do qual ninguém pode ter certeza…

Antes de continuar, vale uma lembrança: Projeção é coisa de profissional, o que o investidor vai fazer adiante é apresentar estimativas sobre os fundamentos da empresa e da economia, para ver como ficaria seu investimento, caso as premissas se verifiquem.

Portanto, nesse processo não há certo ou errado, há apenas bom senso.

O custo de oportunidade em 5 anos

A premissa básica em relação à economia restringe-se à taxa de juros (líquida de IR) para os próximos 5 anos.

Segundo o que foi colocado na Parte 2 dessa série, um investidor conservador limitará o P/L máximo estimado para a Cia. num valor igual ao do P/L da renda fixa. Já um moderado, estimará esse mesmo P/L máximo em até 35% acima do P/L da renda fixa.

Esses são parâmetros sugeridos, com base em observação e empirismo. Cada investidor poderá alterá-lo se desejar e se sentir confortável para fazê-lo.

Apresenta-se, a seguir, um cenário onde a taxa de juros da economia oscila para cima nos próximos 2 anos (tomando por base o último ano com dados financeiros do prospecto) depois cai a 9,5%.

Considera-se um IR de 15% (longo prazo, 2 anos ou mais).

Perceba que, ao final, quando atingir 9,5% ao ano, o P/L da renda fixa estaria em 13,84.

Por que 5 anos?

É um prazo razoavelmente grande para que a empresa volte a múltiplos normais de mercado. Dificilmente uma companhia apresentará crescimento muito grande, por muito tempo e ainda manterá perspectivas de continuar crescendo tão fortemente.

Em resumo, é raríssimo crescer 30% – 40% por três anos seguidos e ainda manter essa expectativa.

Para investidores mais conservadores, pode ser razoável considerar que esse P/L retorne em menos tempo. Isso poderá ser trabalhado pelo próprio usuário do método.

Por que retirar o IR da renda fixa?

Conforme demonstrado no livro “O Mercado de Ações em 25 Episódios“, o investidor de longo prazo tem estratégias simples para não carregar “estoque de imposto” em sua carteira.

E a lei permite ao investidor individual vender até R$ 20.000 de sua carteira sem que precise pagar imposto.

A planilha com as premissas do investidor

Um investidor hipotético está avaliando entrar ou não no IPO da Arezzo. Para usar o método INI, ele vai precisar estimar alguns números importantes.

Crescimento dos lucros para os próximos 5 anos

A Arezzo está partindo de um lucro acumulado em 2010 de R$ 63,9 milhões. Ainda há o quarto trimestre para apurar e, talvez, esse lucro seja ainda maior.

O lucro acumulado em 12 meses mais recente (R$ 63,90) será usado como base para o crescimento dos lucros nos próximos 5 anos.

Se o investidor quiser partir de uma premissa (com base no crescimento histórico) um pouco maior, já indicando uma estimativa para o lucro TOTAL de 2010, incluindo o quarto trimestre que ainda não foi divulgado, poderá fazê-lo, mas estará sendo MENOS conservador.

Na concepção desse investidor hipotético, a Arezzo, com o aporte de capital, terá os seguintes crescimentos de lucro nos próximos anos:

  • 2011 – 40% em relação ao ano anterior
  • 2012 – 35%
  • 2013 – 30%
  • 2014 – 25%
  • 2015 – 20%

O investidor sabe que essas estimativas têm base no seu próprio julgamento e refletem o que ele próprio acredita ser possível para o lucro da empresa.

Se for possível ler algum relatório de analista profissional que apresente projeções, tanto melhor. Mas raramente são divulgados com esse nível de detalhe do valuation.

Variação dos P/Ls para os próximos 5 anos

O mesmo investidor sabe que a Arezzo poderá abrir com um P/L de 23,55, mas que poderá, em até 5 anos, ajustar-se à média do mercado.

Mesmo sabendo que o setor varejista no Brasil apresenta P/Ls superiores a 40, ele não quer se arriscar assumindo uma premissa tão agressiva.

Como, em sua própria expectativa, o P/L da renda fixa será de 13,84, em 2015, o investidor apresentou as seguintes estimativas para os múltiplos MÁXIMOS dos próximos anos, para a companhia:

  • 2011 – 20,00
  • 2012 – 18,00
  • 2013 – 15,00
  • 2014 – 14,00
  • 2015 – 13,84

Outros itens para a planilha

Para completar a planilha são necessários os seguintes dados:

  • O número total de ações (88,54 milhões)
  • O valor estimado da cotação de fechamento da oferta pública (R$ 17,00)

Le gran finale!

De posse de todas aquelas estimativas, o investidor hipotético já pode montar uma planilha que lhe indique o que poderá acontecer com a cotação da Arezzo, caso suas premissas se verifiquem.

Vejam:

Se as premissas desse investidor hipotético se verificarem, ele verá o seguinte:

  • O lucro sairá de R$ 63,90 milhões para R$ 235,50 milhões
  • O P/L cairá de 23,55 (abertura) para 13,84 (2015)
  • A cotação da companhia irá a R$ 36,81
  • A variação percentual, em 5 anos será de 116,6%

O investidor está SEMPRE por sua conta e risco!

Os números acima são apenas ilustrativos, para que se possa demonstrar o uso do método INI para avaliação de IPO´s.

Não há qualquer julgamento técnico e financeiro a respeito da empresa ou do prospecto, apenas estimativas com objetivos educacionais.

Montar uma planilha para avaliar IPO´s segundo suas próprias premissas, com base no que foi exposto, é muito simples.

Já estimar os múltiplos e o crescimento dos fundamentos não é tarefa tão fácil. O papel aceita tudo, assim como o Excel, portanto seja prudente em suas premissas.

Lembre-se que, por mais que alguém tenha lhe dado uma dica quente ou que um upside de 100% esteja indicado no relatório do analista profissional, será sempre o SEU DINHEIRO que estará em risco.

Seguindo a linha de raciocínio do INI, da Better Investing e da Federação Mundial de Investidores, a sugestão é sempre investir com consciência das premissas que estão em jogo e com uma estratégia bem definida em termos de “evolução patrimonial”.

Mas e se…

Sempre haverá otimistas.

E por que não colocar um P/L futuro de 40, como das outras varejistas?

E por que não colocar um crescimento de 50% ao ano para o lucro?

Sempre haverá pessimistas.

E se a taxa de juros for a 20%?

E se a empresa apresentar crescimento menor, digamos, 10% ao ano?

O Método é democrático!

Essa é a “democracia” do método. Tem lugar para todos. Basta colocar suas premissas em suas próprias planilhas.

Claro, sempre por sua conta e risco!

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No Blog do INI: Mudanças Contábeis – Material de Consulta

Posted on 28/01/2011. Filed under: Finanças |

Caros leitores,

No blog do INI:

Como muitos já sabem, 2010 marca o dead line para as mudanças contábeis nas companhias brasileiras.

Para melhorar os termos de comparação com seus pares internacionais, começarão a divulgar nas normas internacionais (IFRS).

Está disponível para consulta um belo trabalho de uma das maiores empresas de auditoria do mundo sobre o tema. De forma bem simples, o documento a seguir aborda as principais modificações nos balanços.

O documento é bem mais amplo e trata de assuntos não ligados diretamente à bolsa e às Cias Abertas, mas abrange muitas mudanças que afetaram os balanços no ano que se encerrou.

Para acessar clique no link abaixo:

Sinopse Contábil e Tributária 2010 – Resumo das Principais Normas de Contabilidade e de Legislação Tributária Emitidas em 2010.

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No Blog do INI: Análises do BB-BI – Top Picks 2011 e Início de Cobertura da Cyrela

Posted on 28/01/2011. Filed under: Finanças |

Caros leitores,

No Blog do INI:

O setor de Análise do Banco do Brasil disponibilizou sua lista de Top Picks na bolsa para 2011. Também iniciou a cobertura da Cyrela.

Vejam nos links abaixo:

BB-BI – Top Picks 2011

Início de Cobertura – Cyrela

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Deterioração das contas públicas – Queda de Marcopolo, Randon, Eztec etc.

Posted on 28/01/2011. Filed under: Finanças |

Nos últimos dias empresas que dependem da oferta de crédito da economia apresentaram quedas severas na bolsa.

Infelizmente a prevenção dos investidores tem bastante sentido.

Os setores de automóveis, bens de capital, construção etc. foram amplamente beneficiados por subsídios governamentais nos últimos anos.

Para evitar que a crise se alastrasse, o governo ampliou bastante a oferta de créditos subsidiado para vários setores.

A Randon já havia alertado isso em seu release. Compra-se caminhões e chassis de ônibus com juros de 4,5% ao ano. Havia farta oferta de crédito imobiliário com juros de até 4,5% ao ano. Num país que capta a 11,25% ao ano, isso é um subsídio e tanto!

A tsunami financeira mundial, por aqui, pareceu uma marolinha, justamente pelos subsídios e elevação dos gastos governamentais, mas agora vem cobrar seu preço.

Todos sabiam que a injeção de dinheiro por parte do governo iria deteriorar as contas públicas e gerar inflação, como, inclusive, ocorreu em muitas partes do mundo.

O governo tem um desafio grande pela frente pois não pode elevar demais os juros, nossa dívida pública BRUTA é estratosférica, a líquida é bem menor, porém é, em grande parte, falsa, pois não leva em conta o crédito subsidiado.

O governo pegava dinheiro a 10,25% ao ano e repassava ao BNDES, que emprestava a 4,5% ao ano. No fim das contas, a dívida líquida zerava, mas o serviço dos juros ficava disparatado.

Podemos sanar esse problema em alguns anos e retomar a trajetória de queda dos juros, mas será necessária muita competência.

O que fazer na bolsa?

Ao longo dos últimos anos escrevemos sobre várias estratégias: Comprar sempre e pouco, balancear a carteira, redução de estoque de IR etc.

Para quem tem estratégia, movimentos como esse soam mais como oportunidade do que como risco.

Para quem usa balanceamento, talvez atinja o ponto de ajuste. Para quem compra sempre, talvez as próximas compras sejam mais baratas.

Mas para quem não tem estratégia… não há o que fazer, pois os objetivos e as técnicas ainda não foram definidos.

A bolsa é o de menos

O que entristece não é a queda da bolsa, mas a evidência de que precisaremos de gestores públicos competentes para enfrentar um problema sério.

Entristece porque só o que se lê nos jornais, a respeito do governo, é política, nenhuma técnica.

O governo Dilma não poderá errar e nem empurrar com a barriga, pois a conjuntura internacional é bem diferente daquela enfrentada por Lula.

Se o fizer, voltaremos ao equilíbrio, como sempre, mas num cenário bem mais deteriorado. A carne já beira R$ 20,00 o quilo. Se chegar a R$ 40,00, significa, metaforicamente, que estaremos 50% menos ricos (ou mais pobres).

A inflação é a vingança mais cruel da economia. É com ela que a velha ciência da escassez nos alerta: você não é tão rico assim.

É continuar torcendo e cobrando.

Fazer como Guido Mantega fez no dia de hoje, dizendo que “um velhinho do FMI” criticou as contas públicas brasileiras, não é exatamente o que se entende por competência.

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O Método INI para Avaliação de IPO´s – Parte 3 – O que nos diz o Prospecto?

Posted on 27/01/2011. Filed under: Finanças |

Partes 1 & 2

Espera-se que o leitor, ao iniciar esta terceira parte de série “O Método INI para Avaliação de IPO´s” já tenha em mente as premissas que foram amplamente defendidas nas partes iniciais:

  • Múltiplos elevados tendem a se ajustar à média do mercado (ou do setor) no médio/longo prazo.
  • É muito arriscado considerar que um P/L elevado continuará a sê-lo após 5 anos de experiência em bolsa.

Apenas para ilustrar, a seguir mostra-se a variação dos P/Ls de duas companhias com históricos de IPO´s muito diferentes.

Porto Seguro

A Porto Seguro (PSSA3) teve seu IPO concluído em novembro de 2004, muito antes do boom de aberturas de capital verificado entre 2007 e 2008.

A motivação para o IPO foi o desejo de saída de um dos sócios, o que seria resolvido com a venda de suas ações. Ou seja, não foi o excesso de liquidez do mercado que fez a PSSA3 decidir pelo IPO.

O preço de abertura foi de R$ 18,75, o que daria um preço de mercado de R$ 1,39 bilhão. O lucro da PSSA3 em 2004 foi de R$ 149 milhões, o que indica que seu múltiplo de abertura (P/L) foi 9,32.

Veja o histórico na planilha abaixo:

EZTEC

O IPO da EZTEC veio com múltiplos maiores do que os da PSSA, mas é razoável esperar isso de distribuições puramente primárias, onde o dinheiro captado entra no caixa da empresa e não no bolso do sócio que estiver se retirando (como foi parte do que ocorreu na PSSA).

A ação saiu a R$ 11,00, em 24 de julho de 2007. Isso conferiu à empresa um valor de mercado de R$ 1,626 bilhão. O lucro em 2007 foi de R$ 45,92 milhões, o que daria um P/L de 35,41.

Como o IPO foi no meio do ano, quando somente o 1T07 havia sido divulgado, se o cálculo do P/L tomasse por base o lucro de 2006 (R$ 6,74 milhões) o múltiplo ficaria MUITO maior, da ordem de 240 vezes!

Veja o histórico na planilha abaixo:

Em posts anteriores mostrei que esse fenômeno de ajuste ao P/L médio ocorreu com várias empresas do ramo imobiliário.

Como a PSSA3 abriu já dentro da média, o que fez foi acompanhá-la. A média de P/L da bolsa brasileira subiu bastante durante o período 2002-2008.

Já a EZTC3 caiu um pouco ao final de 2007 e desabou em 2008, principalmente por conta da crise internacional.

Parte 3…

Partindo do pressuposto que o investidor concorda com as premissas das partes anteriores, agora o que resta é a leitura do prospecto para extrair os dados que realmente interessam para o método INI:

  • Crescimento das receitas (no período disponível)
  • Crescimento dos lucros (no período disponível)
  • Estimativa de P/L de abertura
  • O dinheiro vai entrar na empresa ou vai para os sócios?

Empresas pré-operacionais

Não considero que avaliar empresas pré-operacionais seja um exercício matemático ou financeiro. Dado que uma pré-operacional é apenas uma idéia procurando capital, investir nesse tipo de negócio traz uma incerteza que os números passados jamais poderão traduzir.

Jamais poderão, pois, simplesmente, não há números passados!

O Método INI é basicamente um conjunto de ferramentas fundamentalistas agregadas de forma muito simples, que gera respostas que o investidor pode entender. Não dá para usar essas ferramentas em empresas com histórico ZERO.

Investir em pré-operacionais é comprar business plan, não é comprar com base nos fundamentos.

Infelizmente o Método não vai ajudar nesses casos.

Leitura do prospecto (com foco no Método INI, para empresas operacionais)

Prospectos são instrumentos mais jurídicos do que financeiros. Tanto é que conseguem “resumir” o que caberia em umas 30 páginas, em 660 páginas !!!!

É esse o tamanho do prospecto da Oferta Pública da Arezzo. Leia aqui.

Todas aquelas instruções tradicionais, como a sugestão de leitura OBRIGATÓRIA dos fatores de risco, devem ser seguidas pelo investidor.

O item mais difícil de achar e de trabalhar…

Os dados de balanço e DRE são fáceis de achar, mas o real desafio do investidor será encontrar a quantidade de ações atual e a quantidade de ações APÓS a oferta.

Além disso ele precisará saber quanto da oferta vai para acionistas atuais, quanto vai para o caixa da companhia.

O release da Arezzo demonstra que o resultado da oferta irá em parte para os acionistas atuais, em parte para a companhia.

Garimpando os dados

Oferta primária (caixa da empresa) x Oferta secundária (para o acionista vendedor)

A considerar o preço médio da faixa indicativa (R$ 17,00), a distribuição de recursos ficaria assim (página 54 do prospecto):

A leitura da tabela acima indica que somente os acionistas vendedores ofertarão lotes extras. O total de NOVAS AÇÕES será de 10,294 milhões.

O valor de R$ 162 milhões no caixa da companhia (já descontados os custos de operação) equivale a mais de 30% das vendas da Arezzo em 2009 e mais de 3 vezes o lucro líquido da companhia naquele mesmo ano.

É difícil estimar o impacto que esse dinheiro terá no lucro futuro, mas não há dúvida de que aumento de caixa costuma reduzir endividamento, aumentar capital de giro e melhorar alguns indicadores contábeis relevantes para o funcionamento da empresa.

Número total de ações e free float

Na página 52 do prospecto a empresa revela a estimativa de que terá, após a oferta, 88.542.410 ações, sendo que 34,3% detidas pela categoria OUTROS.

Ao preço médio do intervalo (R$ 17,00), o preço de mercado da companhia ficaria em R$ 1.505.220,97.

Crescimento dos fundamentos nos últimos anos

Da página 24 pode-se extrair os principais fundamentos utilizados pelo Método INI.

Deve-se ter atenção para o ano de 2010, pois só há dados disponíveis até o terceiro trimestre. Para a comparação ficar na mesma base, considerou-se os lucros e receitas acumulados até o 3T10, mais o último trimestre de 2009.

Índice Preço/Lucro de abertura

Na hipótese da Arezzo abrir ao preço médio indicativo (R$ 17,00), o P/L de abertura poderá ser facilmente calculado, dividindo-se o valor de mercado (R$ 1,505 bi) pelo lucro mais recente, acumulado em 12 meses (R$ 63,90 milhões).

P/L potencial de abertura = 23,55

É um múltiplo bem superior ao encontrado na maioria dos setores mas maduros da bolsa, mas inferior aos de seus pares do comércio varejista, conforme visto na PARTE 1 dessa série.

Para o curto prazo (e até médio) pode ser que um P/L 2 vezes maior do que o da renda fixa não traga problemas para o investidor, mas o que interessa é o potencial para daqui a cinco anos.

Será que, quando o P/L retornar às médias de mercado, o lucro terá crescido o suficiente para que o valor de mercado também suba?

Essa é a questão!

Obs. Há muitos modelos matemáticos que utilizam o EBITDA para calcular o valor da empresa. Não são tratados por aqui, pois estão fora do alcance e da senso comum da maioria dos investidores da bolsa. Ah… e os adeptos do P/L como balizador de “caro” e “barato” estão em muito boa companhia acadêmica, como já explicitado anteriormente.

A parte 4!

Não haveria uma parte 4, mas a parte 3 ficou tão grande…

Amanhã os números acima serão colocados em uma estrutura de planilha, para que o próprio investidor simule as perspectivas para a empresa.

Ninguém pode saber o que ocorrerá no futuro, mas pode fazer simulações nas quais acredita.

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Dividendos e JSCP do Banestes – Atualização

Posted on 26/01/2011. Filed under: Finanças |

Há alguns meses postei um comentário sobre o modelo de distribuição de lucros do BANESTES (BEES3 e BEES4).

Relembrando, o banco baseia-se no valor de seu patrimônio líquido (tem sido crescente nos últimos anos) para definir a distribuição de juros sobre capital próprio (JSCP) mensal.

Isso não é novidade, muitas empresas o fazem, porém o BEES3 tem uma característica que faz com que esses JSCP tornem-se atraentes, mesmo em comparação com a renda fixa. O P/VPA, relativamente baixo, menor que 1,26.

Isso faz com que, na comparação com o Preço, o Valor Patrimonial não seja tão baixo, como ocorre com outra bancos e outras companhias.

Novo JSCP

Ontem o BANESTES divulgou sua política de distribuição de JSCP mensais para o período entre janeiro de 2011 e dezembro de 2011.

Veja na reportagem do portal Infomoney:

http://web.infomoney.com.br/templates/news/view.asp?codigo=2029655&path=

O banco vai pagar cerca de R$ 4 milhões ao mês de JSCP. Isso significa R$ 0,02594 para cada ação.

É uma ação que podia ser comprada (ainda hoje) a algo como R$ 5,80.

O Dividend yield, nesse caso, seria:

DY = R$ 0,02594 divididos por R$ 5,80 = 0,447% ao mês ou 5,37% ao ano, pouco inferior à poupança.

Naturalmente, só para os clubes e fundos, pois as pessoas físicas teriam que pagar 15% de IR sobre o JSCP, fazendo essas rentabilidades caírem para 0,38% ao mês e 4,36% ao ano.

Há, naturalmente, empresas que pagam dividendos maiores, mas por mês, até onde sei, não conheço quem pague um DY maior.

Fazendo uma conta inversa, o BEES3, para remunerar um clube à mesma taxa da poupança, teria que cair para R$ 4,35.

Difícil, mas vai que outra crise chega por aí…

Isso nada tem a ver com a performance do ativo em bolsa

É importante que o investidor saiba que nenhuma compra ou venda de ativo faz sentido por si mesma. Só há sentido em compras e vendas dentro de estratégias próprias e bem definidas.

Parodiando o poeta capixaba John Lennon, “How can I go forward, if I don´t know wich way I´m facing…

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O Método INI para Avaliação de IPO´s – Parte 2

Posted on 25/01/2011. Filed under: Finanças |

Relembrando a Parte 1…

A função da primeira parte da série sobre o Método INI para IPO´s foi sugerir a importância dos múltiplos fundamentalistas, especialmente o P/L, na avaliação de uma companhia.

No início, a função foi mostrar que empresas e setores sobre os quais há muito conhecimento, muita pesquisa e, principalmente, muito histórico, costumam apresentar P/Ls mais comportados, menos voláteis e mais próximos da média de mercado ou da média do setor.

Para colaborar com a tese foram convidados Rober Shiller, Jeremy Siegel e Damodaran.

Ao final, para os mais céticos, fez-se uma varredura entre os P/Ls do setor varejista brasileiro, há alguns anos apresentando valores muito acima da média brasileira, e comparando-os com seus principais pares internacionais.

Nesta Parte 2, será discutida a questão abaixo:

O que seria, então, um P/L adequado para o mercado de ações, no longo prazo?

Pergunta complicada de acertar a resposta, mas bem simples de entender e saber se defender com bom senso e respeito à lógica financeira.

O que está por trás do valor do P/L é, em resumo, a expectativa de retorno do investidor.

Quando se lê quem a empresa X tem P/L 40, quem a compra não está esperando que vá levar 40 anos para retornar seu investimento (2,5% ao ano em juros simples), mas que a empresa (o L do P/L) vá crescer muito rápido.

Não existem mercado eficientes na prática, mas é razoável esperar que a grande maioria dos investidores queira GANHAR DINHEIRO, FICAR RICO!

É claro que uma minoria deve querer perder dinheiro, pois há perfis humanos para tudo, desde sadomasô até fãs do Engenheiros do Hawaii…

Partindo desse pressuposto, vamos a algumas perguntas básicas:

  • P: Se a renda fixa está dando 20% acima da inflação (1995 a 2006), por que investiam em bolsa?
  • R: Por que esperavam ganhar ainda mais.
  • P: Você estaria mais propenso a investir em bolsa no Brasil de taxas de juros de 26,5% ao ano ou no Japão de taxas de 0,5% ao ano?
  • R: Em torno de 15% da indústria de fundos brasileira têm posição em ações, no Japão esse percentual beira 80% (fonte: Apresentação da Geração Futuro – Bento Gonçalves – Junho 2010).
  • P: Se levamos, em média, 12 anos para ter retorno do capital em renda fixa (P/L 12), em quantos anos seria razoável esperar esse mesmo retorno em bolsa?
  • R: Responda você mesmo!

Essa longa, longa, longa história, só para lembrar que o que importa é o CUSTO DE OPORTUNIDADE.

O custo de oportunidade

No Brasil da década de 1990 e início dos anos 2000, a taxa de juros era tão alta, que era possível comprar companhias excelentes com P/Ls 50% menores do que os de hoje (de 5 a 8).

Essa realidade mudou com a queda de juros e, também, com as perspectivas econômicas para o país. Além do CUSTO DE OPORTUNIDADE (renda fixa) ter ficado menos interessante, ainda se espera crescimento vigoroso de algumas companhias brasileiras.

Isso tende a fazer o P/L… subir!

Nos EUA um título de 10 anos do tesouro ou um título de dívida de empresa AAA chega a remunerar o investidor entre 4% e 5,5% ao ano (P/L entre 18 e 25).

Pergunte-se: isso tem a ver com o fato dos P/Ls por lá serem historicamente (e na média) maiores do que os brasileiros?

Responda você mesmo!

Se a renda fixa (RF) dá retorno em 12 anos, a bolsa deve ter P/Ls mais altos ou mais baixos que esse?

Ora, ora, ora… Mais uma pergunta difícil de acertar, mas fácil de entender.

Em tese, espera-se que a RF mantenha-se OU decresça (para o bem do país). O estímulo de crescimento de juros atual é pontual.

Se a idéia é de que, no longo prazo, espera-se uma RF menos atraente (P/L maior, juros menores), não é absurdo pagar um P/L maior que 12 por uma empresa que tenha perspectivas e crescimento elevado.

Não é absurdo, mas para os fundamentalistas baseados em valor, bom mesmo é comprar na “bacia das almas”. Já até vejo aquele investidor de Randon sonhando com os tempos de P/L 6 durante a crise…

Para que correr o risco?

Um dos problemas dos IPO´s de 2007 e 2008 foi a entrada em bolsa com múltiplos elevadíssimos.

Não que os investidores buy and hold tenham perdido dinheiro em todas, mas só ganharam naquelas em que as promessas de crescimento rápido do lucro se verificaram.

Mas não é tão bonito ver o lucro da companhia subir 600% em 3 anos e a ação subir 35%…

Parta do princípio que você não sabe e não saberá o futuro. Sei que para alguns investidores será um choque admitir que não sabe o futuro, mas façam uma forcinha…

Se não sabe, e a empresa está abrindo capital a P/L 50, que tal considerar que, em 4 ou 5 anos, esse múltiplo tenda para a média do mercado?

Não se preocupe com o P/L certo, ou com acertar o valuation, isso é função de profissionais, você deve apenas entender os conceitos e proteger o seu dinheiro de otimismos exagerados.

Radicalizando (com base no custo de oportunidade)

Veja a tabela abaixo:

Pela tabela acima, a opção mais comum à renda variável, que é a RF, teria, hoje, P/L 11,76.

Veja agora o histórico de P/L para várias empresas brasileiras (clique na tabela abaixo). São dados HISTÓRICOS, representando exatamente os P/Ls da época. São baseados em dois sites, a TIB (exclusiva para investidores associados ao INI) e o www.comdinheiro.com.br.

Há bastante coerência nos máximos e mínimos, com médias um pouco menores para empresas de elevado Dividend Yield (elétricas e POMO).

Para mais artigos sobre a relação entre a taxa de juros e o P/L, sugiro a leitura dos episódios 11, 12, 13, 22 e 23 do livro “O Mercado de Ações em 25 Episódios“.

Como não sabemos o futuro…

… é melhor posicionarmo-nos com base no bom senso e na lógica financeira.

A Exuberância Irracional já destruiu portfolios pontocom em 2001 e portfolios imobiliários em 2008/2009. Xô!

Humilde sugestão de bom senso e de lógica financeira:

Sendo conservador…

  • Tome o P/L da renda fixa como ponto máximo dos P/Ls da bolsa.

Sendo moderado…

  • Tome o P/L da renda fixa como ponto médio dos P/Ls da bolsa. Aceite que o P/L oscile, no ano, entre 25 e 35% para cima e para baixo da média.

Sendo agressivo…

  • Não seja agressivo! Você já está, provavelmente, comprando um P/L alto no IPO.

Essa sugestão quer dizer que um investidor conservador deve considerar que a sua ação comprada no IPO, tenderá nos próximos 5 anos a ter um P/L semelhante ao da renda fixa.

Já um investidor moderado, considerará que a empresa tenderá a um P/L máximo 25%-35% superior ao da renda fixa.

Isso está certo?

Quem vive de certo e errado é concurso público.

No mundo dos investimentos o objetivo é posicionar-se de acordo com uma estratégia própria e com premissas que você entenda. É a única maneira de fazer investimentos conscientes.

Se você comprar a ação a P/L 50, e em cinco anos o lucro quintuplicar e o P/L ainda aumentar para 100, ganhará 10 vezes o que investiu. Mas isso é absurdamente improvável.

Por que investir no absurdamente improvável?

Para quem quer insistir, tenho uma dica quente: 02-12-33-34-51-52.

Cenas dos próximos capítulos: a terceira parte…

Será a hora de olhar o prospecto e extrair as informações fundamentalistas necessárias para o balizamento de P/L acima.

Não é possível avaliar empresas que não existem, que não tem operação, mas tratarei delas também na terceira parte.

Até lá!

Ps. se alguém ganhar na mega-sena com os números acima, fineza depositar 10% na conta desse blogueiro…

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Análise Técnica x Análise Fundamentalista – O comentário de um day-trader

Posted on 25/01/2011. Filed under: Filosofia, Finanças |

Há alguns dias escrevi posts mostrando as diferenças irreconciliáveis entre a Análise Técnica e a Análise Fundamentalista.

Acredito que tenha sido bastante “polido”, pois recebi comentários muito positivos de fundamentalistas, de grafistas e de day-traders (DT), inclusive contribuindo para que minha visão sobre sua atuação desse último grupo ficasse mais clara.

O comentário de um DT

Um DT profissional me enviou um comentário evidenciando, sem querer, um pequeno deslize que cometi.

No livro “O Mercado de Ações em 25 Episódios“, já na orelha e na contracapa, aviso que há estratégias para GANHAR DINHEIRO e há estratégias para FICAR RICO, e que o livro trataria apenas dessas últimas.

Pois, sem querer, associei a idéia de ficar rico como um contraponto ao trabalho do DT. Não é. Ficar Rico nada tem a ver com o trabalho do DT e não é seu objetivo.

Ainda, ele reforçou a idéia de que DT é uma profissão.

E está certo. Um trabalhador busca remunerar seu capital, seja intelectual (professores), físico (atletas e lutadores), braçal (estivadores), cara-de-pau (políticos) entre outros. Eles passam 8 horas por dia buscando ganhar dinheiro com seus diferenciais. É o que faz um DT. Mesmo que não tenha patrimônio financeiro nenhum.

Bom, essas coisas me me estimularam a reforçar as diferenças entre as estratégias (AT e AF) e a reafirmar que NÃO SÃO ESTRATÉGIAS COMPLEMENTARES.

São diferentes, envolvem objetivos diferentes, sensações diferentes e ferramentas diferentes. Podem ser usadas pelo mesmo investidor, mas não devem ser misturadas para “melhorar a performance” das estratégias de AT ou de AF.

Em resumo, você pode ser um investidor “bipolar” e “treidar” para ganhar dinheiro e revertê-lo em aportes numa carteira fundamentalista de longo prazo.

Porém não faz sentido usar AF para selecionar ações para AT, ou AT para saber a hora de entrar em ações próprias para AF.

Quando escrevi “bipolar”, foi isso mesmo que quis dizer.

É raríssimo encontrar alguém assim. Seria como ter um jogador de pôquer genial, que domina toda a matemática do jogo, acumular todos os seus ganhos e limitar seu cacife. É quase como encontrar um Marciano ou um ET de Varginha (que talvez sejam a mesma coisa…)

AT x AF – Reforço das principais diferenças

O uso de AT é apropriado para remunerar patrimônio
O uso de AF é apropriado para acumular patrimônio

O uso de AT é uma estratégia apropriada para GANHAR DINHEIRO
O uso de AF é uma estratégia apropriada para FICAR RICO

Grafistas e DT devem entender que suas decisões não dependem dos fundamentos
Fundamentalistas devem entender que suas decisões não dependem de suportes e resistências

AT x AF – Algumas Semelhanças

Grafistas e DT são muito importantes para o mercado
Fundamentalistas são muito importantes para o mercado

Grafistas e DT não estão errados
Fundamentalistas não estão errados

Grafistas e DT TAMBÉM podem acabar ficando ricos
Fundamentalistas TAMBÉM podem acabar ganhando dinheiro

Foi só uma pincelada…

Um post rápido, só para não deixar passar em branco o comentário do amigo DT sobre nosso post AT x AF – água e óleo.

Antes que os fundamentalistas me batam, eu confesso…

Pessoalmente, nunca usei estratégias de curto prazo. Operar qualquer derivativo, inclusive opções, é proibido no estatuto do meu clube.

Não gosto, não me atrai, não tenho vocação para AT, apesar de conhecer os princípios, figuras, índices etc.

Mas respeito os Grafistas e DT, pois sei que, matematicamente e psicologicamente, é possível ser brilhante (ou muito acima de média) nesse jogo.

But I don´t have what it takes…

Gosto de comprar uma ação por sua beleza interior, não por suas belas curvas…

If you know what I mean

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Sugestão de Filme: O Equilibrista

Posted on 25/01/2011. Filed under: Cinema |

Tópico off-bolsa!

Antes de continuar com a série “O Método INI para IPO´s”, vale indicar esse eeessspppeeetttaaacccuuulllaaarrr filme/documentário!

O Equilibrista (Man on Wire) conta a história do “crime artístico do século“.

Por mais incrível que possa parecer, um equilibrista francês ALUCINADO resolveu que deveria cruzar as (finadas) Torres Gêmeas andando sobre um cabo de aço.

Eram 61 metros de distância entre as torres e 450 metros de distância do chão. Bobagem?

Acredite, mesmo quem não tem medo de altura vai agonizar no filme… AGONIZAR!

Alguns “brindes” do filme:

  • Ver o processo de construção das Torres Gêmeas. O filme é de 2008, mas nem trata da queda das torres, não era esse o objetivo. Vê-las sendo construídas e lembrar de sua destruição… é uma sensação forte.
  • Os franceses falando inglês é um espetáculo à parte. É de Somesing (something) pra frente. Sensacional. Eles misturando inglês com francês também é divertidíssimo.
  • O choque cultural entre Europa e EUA, ao final do filme, também é educativo.
  • A entrevista do guarda que foi escalado para prender o equilibrista. Um documento histórico!
  • Ver o que o equilibrista faz no cabo esticado entre as torres… não tem preço.

Bom, antes que algum leitor mais sensível fique chateado por achar que contei o final do filme (que ele, enfim, conseguirá andar entre as torres), não se preocupem.

O principal entrevistado é o próprio equilibrista. Se ele não tivesse conseguido, se em 1974 tivesse caído 450 metros até o chão, com certeza não estaria dando entrevista em 2008…

Enfim, essa parte posso contar, pois é evidente no primeiro minuto do filme, ELE NÃO CAIU!

Divirtam-se!

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O Método INI para Avaliação de IPO´s – Parte 1

Posted on 24/01/2011. Filed under: Finanças |

Avaliando IPO´s – Parte I – Empresas “caras” e “baratas”

Para os mais familiarizados com o Método INI pode parecer uma “blasfêmia” utilizá-lo para avaliar um IPO (oferta inicial de ações).

Isso porque os criadores do Stock Selection Guide só admitem avaliar companhias com, no mínimo, 5 anos de história na bolsa.

E isso faz todo o sentido, pois é muito comum que empresas iniciantes na bolsa abram seus negócios com múltiplos muito desfavoráveis (P/L, P/VPA, DY etc.).

Ao nem permitir que essas empresas “rodem” no Método INI, o investidor ficaria protegido de eventuais ajustes bruscos, caso o crescimento prometido por essas empresas não se verifique.

Mais adiante será mostrada uma tabela que mostra o efeito desses ajustes de múltiplos.

Em resumo: O Mercado costuma pagar caro, pois espera grande crescimento. Se esse crescimento não vem, ou vem mais modesto, o preço tende a se ajustar para baixo, até que os múltiplos estejam próximos à média dos mercados e/ou dos setores.

Apesar de não poder ser utilizado diretamente, o Método traz princípios fundamentalistas que podem ajudar muito na hora de decidir a viabilidade de um IPO.

ATENÇÃO!!! Tudo o que será tratado por aqui não vale pare decidir operações de curtíssimo prazo, flipping etc.

O que são empresas “caras” e empresas “baratas”?

Essa é daquelas perguntas que não têm resposta própria, pois depende dos objetivos do investidor. Para quem quer fazer day-trade talvez não faça diferença pagar um P/L 150 na B2W por exemplo, mas para quem quer mantê-la por 10 anos, pode ser perigoso comprá-la a um múltiplo tão elevado.

Professores do gabarito de Damodaran, Jeremy Siegel e Robert Shiller oferecem farto material apoiando a idéia de que, no médio/longo prazo, o P/L tende a retornar às suas médias históricas.

Para mais sobre o estudo de Robert Shiller e Jeremy Siegel sobre o ajuste de P/L clique aqui. O artigo do link é um dos mais importantes para reduzir os riscos do uso de métodos fundamentalistas.

Veja a tabela abaixo:

O setor bancário, com muitas décadas de bolsa, apresenta P/Ls bem comportados, dentro da média de Renda fixa.

Esse mesmo perfil pode ser encontrado em setores maduros, com muitos anos de listagem em bolsa como Mineração, Petróleo, Siderurgia, Energia Elétrica etc.

As ações do setor imobiliário entraram na bolsa com P/Ls absurdamente altos, alguns superiores a 40, como Gafisa, Cyrela e EZTEC. Em menos de 5 anos ajustaram-se para a média de mercado.

É razoável esperar P/Ls comportados em setores sobre os quais os analistas tenham mais domínio, consigam fazer projeções mais apuradas.

Primeira lição: P/L alto é aceitável no presente, improvável no futuro!

É claro que essa lição não é uma verdade absoluta, mas é o caminho da prudência. E ainda compartilhado por centenas de pesquisas sérias feitas pelos melhores professores de finanças do mundo.

Alguns exemplos já foram citados acima e o livro Mitos de Investimento, já tratado no blog, oferece outras tantas pesquisas sobre o assunto.

Veja o ocorrido com os IPO´s de algumas empresas do setor imobiliário:

Independente das empresas terem apresentado um crescimento espetacular, que foi o caso para muitas delas, o P/L acabou se ajustando bruscamente.

A EZTEC chegou a valer R$ 1,3 bilhão, com lucro (2006) de R$ 6,74 milhões. Só há poucos meses a empresa superou o preço de abertura no IPO.

Mas há quem discorde…

Sim. Como há exemplos de empresas que se mantêm com P/Ls elevados por muito tempo (LAME e PCAR, por exemplo), há investidores que não acreditam que esse múltiplo tenda, no longo prazo, a se ajustar.

Veja os P/Ls para o comércio varejista brasileiro:

São evidentemente muito mais altos do que os verificados em outros setores da economia, como os já citados.

Por quê?

A justificativa da literatura é simples: espera-se crescimento muito alto dessas companhias.

Há questões de fluxo de caixa e de compra de controle que requerem um ferramental teórico mais profundo, que não nos interessa por aqui.

Sugiro a leitura do post onde há uma análise da LAME feita pelo pessoal do BB. Eles esperam um crescimento de 250% no lucro em 3-4 anos. Enquanto que para siderurgia e bens de capital essa expectativa cai para 50% a 75%.

E os varejistas no mundo (fonte: google finance)?

P/Ls muito mais modestos. Pode ser que, em países desenvolvidos, esse setor seja considerado maduro, com perspectivas reduzidas de crescimento.

Mas por que pagar um P/L 4 vezes superior ao do Wal-Mart pelas lojas Americanas?

Bom, a explicação do “livro” já está escrita acima.

No próximo post O Método INI para Avaliação de IPO´s – Parte 2, trato de parâmetros razoáveis para os múltiplos fundamentalistas.

Por enquanto, reforço a principal mensagem dessa primeira parte:

P/L alto é risco, pois baseia-se, normalmente, em premissas de crescimento das receitas e dos lucros, em patamares muito acima do mercado.

É aceitável aceitar esse risco HOJE, no IPO de AGORA, mas faça-o esperando que o P/L vai acabar se ajustando e que, para que não perca dinheiro, os lucros terão que crescer muito para compensar o ajuste natural dos múltiplos!

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Investir direto em ações, em fundos e clubes ou em ETF´s (BOVA11) – Questões tributárias

Posted on 18/01/2011. Filed under: Finanças |

Dando continuidade ao post Investir diretamente em ações, Investir em Fundos de Ações ou em Fundos de Índice (ETF´s), trato um pouco do aspecto tributário.

Em fundos e clubes, há justiça tributária, mas ninguém escapa!

Ao contrário do que pensam a maioria dos investidores, o modelo de tributação de um fundo/clube é “menos injusto” do que o do investimento direto em bolsa.

Ao tributar o cotista somente quando este fizer o resgate, há garantias de que ele não pagará se tiver perdas.

No investimento direto é possível, por exemplo, pagar IR durante anos e, num ano como o de 2008 por exemplo, registrar perda na carteira pessoal.

Aquele IR já era. Já está na juba do leão e o investidor, na média, teria perdido dinheiro em seus investimentos.

Mas IR em investimento direto é um problema maior para o trader

Mais adiante mostro que IR para investidores de longo prazo (moderadamente ricos), é um problema menor, mas para o trader, é um monstro desagradável.

Não o VALOR do imposto em si, mas suas obrigações acessórias.

Se contabilizarmos o tempo para uma correta apuração das milhares de operações no ano, é capaz de dar prejuízo mesmo ao melhor trader.

A bolsa, a CVM e a Receita prestariam um enorme serviço ao mercado se permitissem que esses traders operassem em carteiras cotizadas, onde todo o dinheiro é convertido em cotas, e o IR fica sendo apurado até o momento de transformar a cota em dinheiro. Exatamente como num clube, mas sem as restrições de 67% em renda variável e outras que atrapalham o trader.

Isso já deveria ter sido feito. As corretoras cobrariam uma micro-taxa de administração (pois ganhariam no giro do trader) e toda a contabilidade da carteira cotizada ficaria a cargo desse administrador. O trader ficaria inteiramente livre para girar à vontade, pois seus registros contábeis estão na estrutura do “clube exclusivo” ou da “carteira cotizada”.

E nem adianta dizer que o Leão vai ficar chateado, pois ele trabalha com regime de competência. Todos os IR´s devidos, ano-a-ano, entrariam no ativo do Leão. Mesmo que não virassem dinheiro, o ativo cresceria.

Mas, infelizmente, o mundo nunca é como queremos…

ETF´s e a pegadinha do IR…

No começo, o prospecto do BOVA11 indicava que a isenção dos R$ 20.000 também se aplicava à alienação das cotas do fundo no mercado secundário. E a legislação era mesmo omissa, não estavam errados em colocar no prospecto.

Ocorre que ela foi clarificada em 2010, mas pouco esforço foi feito para transmitir essa questão aos investidores.

Na opinião da maioria dos especialistas, ao comprar e vender um BOVA11, independente do valor, você deverá pagar IR, se tiver ganho. Infelizmente não consegui opiniões de especialistas sobre a possibilidade de abater perdas passadas em ganhos futuros nesse instrumento (ETF).

Veja no excelente artigo do link:

http://viverderenda.blogspot.com/2009/06/tributacao-dos-pibbs.html

Não é razoável, mas é a lei

Não considero razoável essa instrução normativa, pois a estrutura de um ETF (fundo de índice) já admite tributação no resgate das cotas (mercado primário). Não é a mesma coisa que fundo, nem a mesma coisa que ação.

Mas é a lei e, com certeza, os advogados da Black Rock são muito mais capazes do que eu para avaliar esse caso.

IR não deveria assustar investidores de longo prazo

Muita gente usa a estratégia, difundida inicialmente pelos extintos informativos do INI, em 2006, e depois no livro “O Mercado de Ações em 25 Episódios“, de operar SEMPRE, para reduzir gradualmente o “estoque de imposto de renda” nas carteiras de longo prazo.

É possível, por exemplo, praticamente zerar o IR a pagar em uma carteira de R$ 500.000,00, em apenas 2 anos, sem modificar a estrutura da carteira.

Para isso é necessário operar (comprar e vender, mas nunca no mesmo dia), para elevar o preço médio das ações em carteira.

Na questão de custos, o investimento direto é imbatível

Como não se está livre do IR em fundos, e uma gestão inteligente da carteira de longo prazo pode reduzir significativamente o estoque de imposto, nesse aspecto o investimento direto ganha amplamente.

Só por isso, já representaria um ganho de até 15%.

Mas não é só.

Fundos pagam, normalmente, corretagem de mesa, algo como 0,5% por operação. Se sua corretora cobrar, por hipótese, R$ 10,00 por operação, seus custos serão menores para qualquer operação superior a R$ 2.000,00.

Fundos cobram, no mínimo, 0,5% de taxa de administração. Mais uma vez, se sua corretora cobra R$ 120,00 por ano de taxa de custódia, para uma carteira com mais de R$ 24.000,00 o custo percentual de manutenção da custódia seria menor.

Voltamos à questão do perfil autodidata

Como escrito no post original (link acima), a decisão é muito mais baseada no interesse pessoal do que nas questões matemáticas.

Se o investidor quer aprender, ficará frustrado se operar SOMENTE através de fundos. Se não quiser aprender, não suportará ter que estudar e gerir seu próprio portfolio.

Simples assim.

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A importância dos ratings e o preço das ações

Posted on 18/01/2011. Filed under: Finanças |

O rating (AAA, BBB etc.) é uma medida de risco de crédito

Apesar dos episódios que evidenciaram a incrível imprecisão dos ratings concedidos pelas principais agências (Fitch, S&P e Moody´s), essa medida de risco de crédito ainda é praticamente a única reconhecida amplamente pelo mercado.

E, mesmo com todos os erros, assim continuará sendo, pois esses ratings são base para precificação de inúmeros contratos financeiros e não há, no horizonte visível, qualquer medida que possa suplantá-los em termos de ramificações e de confiabilidade.

Apesar do Investment Grade AAA da Islândia ter sido revisto somente quando o país quebrou… É mais ou menos como avisar HOJE, que o Flamengo não será campeão do Brasileirão 2010…

Os primórdios do mercado de ações…

Poucos sabem, mas houve uma época, antes de 1980, que o mercado de ações norte-americano era pautado pelo dividend yield. As pessoas compravam empresas que pudessem pagar um DY superior ao retorno oferecido por um título de dívida com rating AAA.

Depois, principalmente depois da administração Reagan, gradualmente o investidor migrou para a visão do TSR (Total Shareholder Return), onde o DY e a valorização do ativo são contados para o cálculo do retorno do acionista.

Pois esse título de dívida AAA pode ser entendido como aquele emitido por uma entidade que tem ENORME PROBABILIDADE de pagar suas contas em dia.

É evidente que, um título de uma empresa ultra-sólida (como o Lehman Bros… brincadeirinha com fundo de verdade) vai pagar uma taxa mais baixa do que um título CCC ou similar, pois a probabilidade deste último falhar um pagamento é maior, na visão das agências de rating.

Se uma empresa rated AAA emitir um título de dívida, uma debênture ou similar, vai pagar ao comprador, em tese, a menor taxa de juros do mercado, por conta do seu risco baixo.

Era como funcionava o mercado norte-americano.

Se, por hipótese, a General Electric, em 1969, precisasse pagar 4,6% ao ano para tomar dinheiro no mercado (por ser AAA), um investidor iria procurar uma ação que tivesse, no mínimo, essa expectativa de retorno com dividendos.

Investment grade

A partir de um determinado rating (ver aqui), a empresa (ou país) é considerada Investment Grade, uma espécie de “não caloteiro oficial”.

Isso faz com que algumas situações se modifiquem:

  • Os custos para captação de dinheiro via empréstimos, debêntures etc., caem
  • Alguns fundos conservadores, que só podem investir em “não caloteiros oficiais”, colocam a empresa ou os títulos do país na mira

Isso foi um pouco do que aconteceu com o Brasil ao receber o Grau de Investimento.

É importante ficar claro que a medida do risco de crédito não leva somente em consideração as condições financeiras atuais de um país ou de uma empresa, mas seu histórico de governança. E no exterior, histórico de governança significa 30, 40 anos de confiança e respeito a contratos, por isso nossa moratória “Sarneyzista” ainda cobra seu preço.

Poderíamos ter obtido o investment grade há mais tempo. Mas aquela história de calote na dívida externa sempre rendeu muitos votos… O inimigo externo… As perdas internacionais…

Ai,ai…

Para as empresas (Valuation)

No episódios “De onde vem o preço das empresas listada em bolsa – Introdução ao Valuation“, do livro 25 episódios, ficou claríssimo que, caso haja redução no risco (menor taxa de desconto), o preço da ação tende a subir.

Isso aconteceu com o Mercado de Ações brasileiro como um todo, ao receber o grau de investimento. E acontece também com companhias abertas.

Ao melhorar seu rating, as empresas podem captar, se financiar e se alavancar a custos menores. Isso tem impacto direto no valuation, pois deve modificar, normalmente, a taxa de desconto do fluxo de caixa futuro, além de permitir elevação nas margens, pela queda nos custos financeiros.

Dessa forma, faz parte do “jogo” pagar um pouco mais por empresas que têm custo mais baixo de crédito. Por isso, ao menos num primeiro momento, acabam subindo.

Não é tão simples

É claro que a matemática desse cálculo não é tão simples, ao contrário, é bem chata. Mas o conceito é basicamente esse: Se a empresa melhora seu rating, seu custo de captação cai e seu risco é considerado menor.

Esses dois pontos impactam no preço da ação diretamente, seja pela redução da taxa de desconto do fluxo de caixa futuro (discounted cash flow), seja pela redução do custo necessário para financiar o negócio.

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Sugestão de filme: O Grupo Baader-Meinhof

Posted on 18/01/2011. Filed under: Filosofia, Política |

Caros leitores,

Esse post é uma das raras incursões “off-bolsa”.

O Ministério do Pai Rico adverte: As colocações abaixo são impróprias para quem não gosta de política e de filosofia. Sua leitura por causar sono profundo… (rsrsrs)

O Grupo Baader Meinhof

O filme acima conta, acima de tudo, a história de um sentimento revolucionário que se fez presente em quase toda a civilização durante a guerra fria.

O Grupo extremista RAF (Red Army Faction) aterrorizou a ainda jovem democracia Alemã, com base em seus ideais revolucionários, antiamericanos e antiimperialistas.

Em que o filme se diferencia?

Só Deus sabe o quanto minhas idéias são diferentes dos ideais revolucionários das décadas de 1960 a 1980, mas ainda assim o filme me impressionou pela capacidade de juntar documentário e drama, sem qualquer vestígio ideológico, ao menos na minha visão.

O cineasta conseguiu mostrar como os fins não justificam os meios, mesmo sem demonizar qualquer lado.

Fica evidente a luta da Alemanha para se reencontrar após o Nazismo, mesmo sendo governada, eminentemente, por antigos aliados ou simpatizantes do 3° Reich. Resquícios de brutalidade policia, de ingerência sobre a mídia entre outros temas próprios de regimes ditatoriais são amplamente mostrados ou indicados no filme.

Mesmo assim, a atuação do RAF, que durou de 1970 a 1998, não deixa qualquer dúvida sobre a impropriedade e a aberração dos meios terroristas que utilizaram para combater aquele regime imperfeito.

Para quem quiser um verdadeiro “tratado emocional” sobre a falácia dos fins justificarem os meios, sugiro outro filme: Unthinkable. Coloquei o nome em inglês, pois a tradução do título para o português é ridícula e nada tem a ver com o objetivo do filme. Vocês verão.

Der Baader Meinhof Komplex é imprescindível para as novas gerações

Todos os países da América Latina, inclusive o Brasil, abrigaram diversos grupos revolucionários, com o uso das mesmas táticas e com base nos mesmo ideais e na mesma literatura do RAF.

Um dos livros que inspiraram a atuação do RAF foi o Minimanual de guerrilha urbana, do Brasileiro Carlos Marighella.

No Brasil, a guerrilha urbana foi dada como vencida em 1975, talvez por isso seus efeitos, seus objetivos e seus ideais não sejam do conhecimento de um brasileiro com menos de 40 anos, mas na Europa esses grupos duraram bem mais, alguns, como o ETA e o IRA (ambos separatistas), entraram século XXI adentro.

O filme consegue mostrar, com clareza, o clima revolucionário da época, e, em minha opinião, serve para tratar o passado com o devido cuidado e sem mistificações.

Aqui no Brasil trata-se de forma festiva e heróica a atuação da guerrilha armada (eu mesmo votei no Fernando Gabeira), mas aquela época foi um tempo de horror e os objetivos revolucionários não tinham qualquer nobreza, muito menos os meios utilizados tinham qualquer resquício de humanidade.

É razoável aceitar que, em 1970, um jovem ficasse influenciado e apaixonado por Guevara, Sartre, Proudhon, Marx e outros filósofos da “verdade”, principalmente numa época em que a guerra de propaganda entre as duas superpotências pintavam um mundo cheio de mentiras, tanto capitalistas, quanto comunistas.

E as mentiras capitalistas eram as únicas evidentes, pois os comunistas dominavam a técnica de reescrever a história e de tratar temas conflitantes como concordantes, doutrina tão bem exemplificada pelo verbo duplipensar, no livro 1984 de George Orwell.

Até a queda do muro de Berlim e o ocaso da URSS, ninguém sabia o que acontecia, realmente, naquelas sociedades.

Enfim, vejam o filme e conheçam um pouco da história. Sem mistificação, sem deificação, sem heroísmos falsos.

É o mínimo que precisamos para garantir que o Brasil se desenvolva de forma adequada.

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Leituras para o final de semana…

Posted on 14/01/2011. Filed under: Finanças |

Nobres leitores, esse foi um início de ano corrido. Quem mandou eu querer defender a Análise Fundamentalista!

A pobrezinha não faz mal a ninguém (pelo contrário) e só leva bordoada…

Bom, a seguir a lista dos últimos posts:

Investir diretamente em ações, Investir em Fundos de Ações ou em Fundos de Índice (ETF´s)

Ataques à Análise Fundamentalista

Mitos de Investimento Livro Obrigatório de Aswaht Damodaran

Análise Técnica X Análise Fundamentalista Água e Óleo

MAD Método dos Aportes Dobrados Exceções

Resultados 2010 Clube Stratocaster Atualização dos P/Ls da Carteira

A Petrobras não perdeu valor de mercado em 2010!

Análises no Blog do INI: B2W, Daycoval, ABC Banco, Bicbanco, EZTEC, Fibria, Suzano, Klabin, Iochpe Maxion, Lojas Americanas, Lupatech, OHL, Paranapanema e São Martinho

Enjoy!

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Investir diretamente em ações, Investir em Fundos de Ações ou em Fundos de Índice (ETF´s)

Posted on 14/01/2011. Filed under: Finanças |

O Sr. Aroldo, leitor do blog e experiente usuário do método INI, levantou um questionamento interessante:

– Os fundos de índice (ETF´s) são carteiras diversificadas que reinvestem automaticamente os dividendos. Qual sua semelhança com o Método INI?

Para relembrar, a parte comportamental do Método INI sugere comprar pouco e sempre, e reinvestir todos os ganhos.

Dada a amplitude do tema, em vez de responder-lhe diretamente, faço um breve post sobre o assunto.

Investir diretamente em ações

Não vou tratar de instrumentos de curto prazo. Falo apenas dos indivíduos que querem montar uma carteira de ações de longo prazo buscando melhorar a rentabilidade de seus investimentos.

Essa modalidade não é para todos os perfis.

E aqui não se trata de perfil de investidor (conservador, moderado e arrojado), mas de características de personalidade MESMO.

Para sentir-se confortável nesse tipo de investimento, o indivíduo (exceto trader) precisa gostar de aprender sobre economia, sobre as companhias e seus fundamentos, sobre múltiplos fundamentalistas, sobre desenvolvimento do país etc.

É preciso que queira e se sinta à vontade lendo relatórios de resultados, análises feitas por terceiros, jornais, revistas etc.

Esse investidor olha as companhias, a conjuntura, a economia, a política econômica e isso faz parte, naturalmente, de seus interesses diários, de conversas com amigos etc.

O Método INI é apenas um conjunto de ferramentas fundamentalistas que oferece um caminho para seleção de empresas de crescimento e de valor, mas ele, sozinho, não vai fazer o perfil autônomo do investidor.

Essa tendência e preferência pela autonomia é dele, de sua própria personalidade.

Investir em fundos de ações

Muita gente pensa que os fundos de ações são os instrumentos certos para quem não tem aquele perfil autodidata, que quer aprender e fazer por si mesmo, mas isso é uma meia-verdade.

Apesar dos fundos de ações terem gestão terceirizada, ou seja, o investidor entrega seu patrimônio para um profissional, está longe de ser verdade que a escolha do fundo não requeira TAMBÉM um investimento de tempo, de investigação, de leitura e de conhecimento.

Nos EUA, a NAIC (www.betterinvesting.org) tem uma ferramenta específica para a seleção de fundos mútuos (em 2005 eram mais de 17.000 opções).

E o método é tão ou mais complexo do que o Método INI, pois é preciso saber:

  • Histórico de rentabilidade do fundo
  • Estratégia de gestão
  • Rotatividade do gestor (turnover de pessoal)
  • Giro de carteira
  • Relação entre corretagem e taxa de administração

Esses são apenas alguns dos itens relevantes para escolher um fundo “vencedor”.

Nos últimos anos, entre 2004 e 2009, foram raros os fundos que bateram o índice Bovespa por mais de 4 anos em seqüência.

E as explicações são muitas. Primeiro por conta dos custos de administração e de corretagem (dependendo do giro), segundo porque o índice NÃO É BEM DIVERSIFICADO, e é dependente de commodities que subiram exageradamente entre 2004 e 2009.

Nenhum fundo diversificado teria Petróleo, Mineração e Siderurgia correspondendo a 60% da carteira.

Mas ATENÇÃO! Já em 2010, a média de retorno dos FIA foi MUITO superior à da bolsa, mesmo pagando os custos. A bolsa ficou com algo em torno de 1% e os fundos com algo em torno de 11% (ver post sobre clube Stratocaster).

Aqui fica um comentário sobre o Clube de Investimentos Pioneiro de Brasília, que é o mais rigoroso seguidor do método INI de que temos conhecimento. Um clube que chega a ter reuniões com 150 pessoas e decide somente e exclusivamente pelo Stock Selection Guide.

Nos anos mais difíceis para os fundos (de 2004 a 2007), quando todos perdiam do índice, eles bateram o mesmo, e com uma elevada taxa de administração (3% ao ano).

Parabéns aos meus amigos Jaime, Victor e Imperatori!

Investir em ETF´s (fundos de índice)

Recebemos o pessoal da Barclays (hoje os Ishares estão na Black Rock) para uma apresentação dos fundos de índice BOVA11 e outros.

A estratégia deles é obter uma rentabilidade muito próxima da rentabilidade do índice em que se espelham, o que parece simples, mas é dificílimo, do ponto de vista operacional.

Outro ponto é garantir quem o preço do BOVA11 espelhe o “preço” do índice TODOS OS DIAS, TODAS AS HORAS! Não quero entrar em detalhes, mas é um trabalho absurdamente complicado.

Não é só comprar as mesmas ações do índice. É dar liquidez SEMPRE.

Bom, o resultado, no mundo ao menos, é notável. O crescimento da participação dos fundos de índice no exterior é exponencial.

E isso tem uma explicação simples. São investimentos que, em tese, garantem o índice, com custos comparativamente muito mais baixos.

Além disso, é possível investir em Small Caps, Mid Caps etc., com pouco dinheiro.

A forma de comprar essa participação nos ETF´s é também muito simples, semelhante à compra de uma ação no home broker.

Esse instrumento, para quem REALMENTE não quer ter trabalho de selecionar as empresas ou os fundos (FIAs), caiu como uma luva em suas ambições de investidor TOTALMENTE passivo.

Cuidado com o índice!

Aqui vale um alerta importante.

O índice não é uma carteira de qualidade, mas de quantidade. As empresas não estão lá, diretamente ao menos, por serem boas e por terem dado bons lucros, mas porque tiveram muito negociação.

É claro que podemos esperar, no médio prazo, que as vencedoras tornem-se as prediletas e, consequentemente, tenham muito volume, mas há um delay importante nesse prazo.

Vejam o exemplo da Petrobras e do Ibovespa 2010. O índice apanhou feio dos fundos em 2010, pois seu principal papel teve um desempenho pior que a média.

Quem investiu em índice em meados da década de 1990 e início dos anos 2000 ficou à mercê da teles. Enquanto que os fundos que investiram em commodities cresceram (ou deveriam ter crescido) muitíssimo mais.

Por fim…

Não existe “O” investimento certo. Existe você. Descubra seu perfil, suas vontades em onde se sente confortável. É sempre o primeiro passo. Mesmo que leve anos. E se for levar anos, é melhor começar hoje…

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Ataques à Análise Fundamentalista

Posted on 13/01/2011. Filed under: Finanças |

Caros leitores,

Tenho recebido alguns e-mails indicando blogs e sites de grafistas que buscam denegrir a análise fundamentalista ou a estratégia buy and hold. Não direi os nomes, mas postarei os links indicados.

Como deve ter ficado claro no post Análise Técnica (AT) X Análise Fundamentalista (AF) – Água e Óleo, tenho respeito por quem usa gráficos, apenas acho que as abordagens (AT e AF) são irreconciliáveis, jamais se poderá entender os motivos de uma, a partir dos conceitos de outra.

Mas devo defender os fundamentalistas e os usuários do buy-and-hold, pois as críticas são imprecisas.

Bolsa de Tóquio -1989

Esse é a predileta de quem quer convencer o investidor a ser um trader. O Índice Nikkei 225 atingiu, em dezembro de 1989, seu pico histórico aos 38.916 pontos. Hoje, 22 anos depois, está em 10.500 pontos.

É algo assustador, principalmente para quem tem pouco conhecimento de bolsa, economia, finanças etc., os mais propensos a aderir aos gráficos.

No livro “O Mercado de Ações em 25 Episódios” discuto o tema no episódio “A Bolsa que Nunca se Recuperou – Tóquio 1989“, mostrando o histórico da formação da bolha imobiliária e fazendo um paralelo com o que NÃO ESTÁ acontecendo com a China. Além de mostrar uma quantidade absurda de evidências dessa bolha, totalmente negligenciadas pelos investidores.

A mais absurda dessas evidências, em termos fundamentalistas, era o índice P/L MÉDIO da Bolsa japonesa, 70,6x.

Qualquer investidor minimamente instruído sabe que esse índice está, pelo menos, 3 vezes acima do máximo aceitável e 4,5 vezes acima da média de mercados como o Norte-Americano, o Europeu e outros desenvolvidos.

Sem me estender muito sobre a origem da bolha, vale relatar um fato: Em fevereiro de 1985, 100.000 ienes compravam US$ 386,10. Ao sucumbir às pressões para valorizar sua moeda (o que a China de hoje evita ferozmente) em apenas 1,5 ano, em setembro de 1986, 100.000 ienes compravam US$ 653,59, 69% mais.

Resultado, não tinha japonês pobre no mundo!

As lições do crash japonês, ao contrário do que os grafistas sugerem, são mais eloquentes para os traders do que para os fundamentalistas, que tinham inúmeros indicadores de bolha à mão.

Um trader de mercado futuro de índice (Japonês e de Cingapura), Nick Leeson, quebrou o Barings, secular banco inglês que tinha até a Rainha como cliente. Fazendo o quê? Ora, trade!

Bom, para encerrar a parte da Bolsa de Tóquio, vale retomar a paródia da sua mulher (ou seu marido) chegando em casa de Jaguar XJ12 0Km, carro de R$ 300.000.

Você deve escolher que tipo de marido (esposa) é você:

  1. Do tipo que pede explicações convincentes, sob pena de pedir o divórcio.
  2. Do tipo que pede explicações, se convence com qualquer coisa e, em uma semana, já está pedindo a chave do carro para dar uma voltinha.
  3. Do tipo que já pede logo a chave sai para curtir o carro.

Com investimento é a mesma coisa. Está ganhando muito dinheiro? É bom saber por quê. Caso contrário, alguém pode tomar o Jaguar de volta e ainda pendurar uma conta de honorários atrasados em sua porta.

Os japoneses estavam no terceiro tipo.

Uma secretária japonesa disputava a compra de uma casa de veraneio no Havaí com um empresário abastado americano, e achava normal. O valor do terreno do palácio imperial valia mais que os imóveis do Estado da Califórnia, e era tudo normal.

E o Jaguar virou Toyota, quer dizer, abóbora…

Quem comprou em 1929 nunca recuperou o dinheiro!

Essa é de ontem, de um site badaladíssimo de AT. Não vou comentar o que o site disse, mas a reportagem original do New York Times (ver aqui).

O pesquisador montou um gráfico interessantíssimo para mostrar o retorno do investimento de quem entrou na bolsa em um determinado ponto, a partir de 1920, e saiu em um ponto futuro, até 2009. São milhares de combinações e os resultados são mostrados em cores.

Tudo ajustado para a inflação, dividendos e as taxas. Ajustar a dividendos, não é a mesma coisa que reinvesti-los, que fique claro.

O gráfico mostra que a maioria dos retornos (acima da inflação) fica situada entre 3% e 7% ao ano, bem menos que a expectativa dos Americanos, que é de mais de 10% ao ano.

Isso foi usado para denegrir o buy-and-hold.

Mas é uma analogia imprecisa, pois o REAL investidor buy-and-hold não faz, em absoluto, o que o gráfico sugere.

Aliás, a filosofia de colocar muito dinheiro de uma só vez na bolsa e retirá-lo todo, no futuro, também de uma só vez é muito mais aderente ao comportamento de traders do que de investidores de longo prazo.

O que faz (ou deveria fazer) o investidor buy-and-hold ATIVO e REAL:

  1. Compra pouco e sempre. Quem coloca muito dinheiro de uma só vez está apostando que vai acertar a hora de entrar.
  2. Reinveste todos os seus ganhos, tanto os ganhos de capital quanto os ganhos com proventos.
  3. Acompanha, no mínimo, trimestralmente os relatórios de resultados de suas empresas, permanecendo naquelas que mantêm potencial de crescimento (usando o método INI-NAIC, por exemplo).
  4. Diversifica seu portfolio. Ações são apenas uma parte de seus investimentos.

Esse personagem inerte que coloca todo o dinheiro num dia e volta 20 anos para ver como está não existe na vida real.

Talvez alguns brasileiros que entraram nos planos de expansão de telefonia, nos fundos 157 e outras formas “tortas” de investir em ações façam isso, mas não são investidores, são vítimas de subsídios governamentais inadequados.

O Investidor Decide

Para encerrar essa “defesa” da AF, afirmo categoricamente: não acredite nos outros, acredite em você.

Não há estratégia mais perdedora do que seguir uma filosofia de investimento que você não entende, seguir um caminho que você não vê.

Para fazer isso, é menos arriscado investir em fundos mútuos. Operar sem entender o que está acontecendo é dirigir no escuro com os faróis apagados.

Como escrito no post sobre AT x AF, a motivação para investimento em bolsa parte da crença de que se pode ganhar dinheiro, seja no longo ou no curto prazo.

Independente de sua escolha (trader ou buy-and-hold), eduque a sua crença, para que não acredite em qualquer exorcismo ou despacho financeiro que encontrar pelo caminho.

Ps. Talvez não tenha ficado claro com o texto, mas reitero meu respeito por usuários de gráficos, traders, day-traders etc.. O objetivo do texto não foi denegrir essa filosofia de investimento, mas “proteger” investidores menos experientes de conclusões imprecisas sobre os fatos que relatei (Tóquio e NY Times).

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Mitos de Investimento – Livro Obrigatório de Aswaht Damodaran

Posted on 11/01/2011. Filed under: Finanças |

Conforme colocado no post de ontem (Análise Técnica x Análise Fundamentalista – Água e Óleo), os livros do Professor Aswath Damodaran são verdadeiros tratados científicos sobre investimento em bolsa.

Damodaran também é uma pessoa gentilíssima. Ano passado o convidamos para realizar uma videoconferência no 2° Congresso INI e, pessoalmente, ele nos comunicou ter ficado honrado com o convite, mas não poderia pois a data coincidiu com o final de semana do Thanksgiving nos EUA.

Comentário de insider: ainda bem que não chegamos a tratar de valores, pois o cachê era “por amor ao mercado”… iria pedir US$ 50.000 e receber uma contra-oferta de duas mariolas e um charuto baiano. É brincadeira, viu…

Não são para principiantes!

A maioria dos livros do prof. A.D. são mais adequados para investidores com alguma experiência, pois trazem pesquisas extremamente bem elaboradas (e simples) que explicam o funcionamento da bolsa e os impactos de estratégias de investimento amplamente utilizadas por investidores em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Mitos de Investimento

Já li mais de uma centena de livros sobre bolsa, a maioria pura repetição, e um dos que mais gostei foi o “Mitos de Investimento”, título desse post.

O livro busca ver o que é realmente verdadeiro nos grandes mitos do mercado de ações e nas histórias de sucesso. Ainda ensina a extrair o melhor de cada uma dessas grandes “verdades” sobre investir em ações.

Lembrando que Damodaran é professor da NYU e é considerado um dos mais importantes autores na área de Valuation. Foi considerado pela Business Week um dos melhores professores de finanças dos EUA na década de 90.

Vejam a seguir o índice:

Capítulos:

1 – Introdução;

2 – Essa ação está tão barata! A História do baixo múltiplo preço/lucro;

3 – Mais barato que o valor patrimonial? Que pechincha!;

4 – Como foguete! A História do crescimento;

5 – O pior já passou: a história de como ser do contra;

6 – É garantido: nada de risco e lucro certo;

7 – É só alegria: a história do impulso;

8 – Dez lições para os investidores;

Pesquisas em Análise Fundamentalista

A leitura do livro dá um bom exemplo do tipo de pesquisa que, infelizmente, nosso mercado ainda carece demais. O professor constrói experimentos estatísticos com premissas altamente verificáveis e mensuráveis, e “roda” a ferramenta estatística para “comprovar” ou “refutar” as hipóteses com uma clareza impressionante.

P/L baixo é bom? P/VPA baixo é bom? Investir em crescimento é bom? Investir nas empresas que mais caíram é bom? A estatística (compreendendo um período de mais de 100 anos de dados bolsa) mostra sem intervenções emocionais.

Nem preciso dizer que, como dinheiro não leva desaforo, quem quiser comprar o livro deve procurar nesses sites de desconto (www.buscape.com.br por exemplo), dá para economizar uns R$ 25,00 fácil!

Sobre o mercado brasileiro

No livro “O Mercado de Ações em 25 Episódios” este humilde escriba buscou trazer um pouco dessa realidade de pesquisa ao mercado brasileiro.

Dos 25 episódios (+ 5 apêndices) pelo menos metade lançou mão de dados reais da bolsa brasileira para demonstrar (ou refutar) algumas hipóteses/mitos/histórias sobre nosso mercado.

Há inclusive uma adaptação do método do Prof. Damodaran para tratar empresas com P/L baixo no episódio “Os Cuidados com Ações com Índice Preço/Lucro Muito Baixo“, na página 161.

Não usei os filtros de Graham como ele, mas somente a definição alterada de P/L proposta por Damodaran. Funcionou, tanto lá como cá!

Boa leitura a todos!

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Análise Técnica X Análise Fundamentalista – Água e Óleo

Posted on 10/01/2011. Filed under: Finanças |

No começo do ano recebi de um nobre cearense, leitor do blog, um link com previsões dos principais analistas técnicos para a próxima década.

Isso mesmo: década (2011-2020).

Com o mesmo conjunto de técnicas, os analistas fazem previsões para 10 segundos e para 10 anos.

Sensacional!

Mas o objetivo do post não é “maltratar” os grafistas nem “enaltecer” fundamentalistas, mas dar um relato do que aprendi nesses últimos 8 anos e mais de 5.000 horas de palestras e cursos em 17 estados brasileiros, a respeito desse tema.

A Análise Técnica é um sucesso porque faz parte da natureza humana

Alguns vão ao fundo do poço, como o matemático John Nash que conseguia ver mensagens de guerra codificadas em simples jornais provincianos, mas faz parte da construção do conhecimento de todos nós, reconhecer padrões nos fenômenos naturais e intelectuais.

Basta fazer uma prova de Q.I. para ver que o mundo ocidental considera “gênio” aquele que consegue identificar mais padrões entre esferas, triângulos, números, figuras etc.

É o que a análise técnica faz, simplificando a história. Procura identificar padrões nas variáveis quantificáveis e “desenháveis” das operações em bolsa.

É natural que atraia tantas pessoas e que as leve a acreditar na capacidade de prever o futuro com base em padrões que se repetiram no passado.

Qualquer pessoa que teve educação formal em escolas cartesianas tem forte tendência a procurar padrões. Esse é o modelo de “inteligência funcional” no nosso mundo.

Mas isso não garante a “ciência” da Análise Técnica (AT)

Nesse ponto devo confessar minha ignorância, pois desconheço trabalhos científicos, baseados em métodos que qualquer pesquisador poderia comprovar, sobre Análise Técnica.

Sei que eles existem, mas não chegam tão abundantemente às nossas mãos como aqueles desenvolvidos com base em análise fundamentalista (AF). Qualquer livro do prof. Damodaran prova o que digo, em especial o “Mitos de Investimento” (vou postar uma resenha que escrevi sobre o livro).

Já li alguns artigos (papers) em inglês sobre AT, mas, ou os objetivos eram insignificantes, ou o pesquisador se perdia na tautologia.

Tautologia é a arte de descobrir o que já está descoberto, ou a arte de profetizar sobre o passado.

Tenho certeza que os leitores do blog indicarão, nos comentários, alguns artigos para que eu possa continuar minha peregrinação em busca da ciência da AT.

O que aprendi em 5.000 horas de palestras e cursos?

1. It´s not a matter of fact, it´s a matter of belief

Nada mais inútil do que tentar convencer um grafista ao fundamento, ou vice-versa. Não há ciência para convencer, mas também não há para desmentir, o que nos deixa na dimensão da fé.

Frases que ouvi ao longo dos anos:

– “Poxa, com meus trades ganhei mais de 60% com a VALE nesse ano”, respondi – “Foi muito bom, mas a VALE subiu quase 100% em 2007…”
– “Tenho conseguido 7% ao mês em meus investimentos, há mais de 2 anos!”, respondi – “…”, não respondi nada.

E tantas outras histórias de sucesso. Quase nenhuma de fracasso…

Por isso é importante respeitar a frase em inglês, do subtítulo acima: é uma questão de crença.

Não faz qualquer sentido tentar demover uma crença de uma pessoa.

É mais fácil tentar incutir OUTRA crença tão forte nos valores dela, para que, caso sejam antagônicas, vença a melhor para a vida daquele indivíduo.

Essa lição foi muito importante. Fez com que mantivesse milhares de investidores atentos ao Método INI, mesmo sendo grafistas convictos.

2. AT e AF não se misturam. Não fazem parte da mesma categoria de pensamento.

Há uma frase no mercado que tem sido recebida como “verdade absoluta”: – Uso a análise fundamentalista para escolher o ativo, e a análise gráfica para saber a hora de entrar.

Creio que 10 entre 10 investidores consideram que isso seria “o melhor de dois mundos”.

Humildemente discordo.

Há 3 anos, assisti uma palestra do Didi (o da agulhada, não o Mocó). Entre um palavrão cabeludo e outro entendi duas coisas: 1- Não importa o ativo, o que importa é o sinal gráfico, 2- Analista técnico tem que ter atitude, decisão. O covarde e o titubeante só perdem.

Não dá para provar o que ele disse, mas faz todo o sentido. Pela própria natureza da AT, parece absurdamente plausível que os ativos que interessam para grandes trades não tenham qualquer relação com seus fundamentos.

Lembro da Ecodiesel movimentar em 1 pregão, quase todo seu valor de mercado. Seria como se a VALE movimentasse uns R$ 200 bilhões em um dia.

Não foi por conta dos belos olhos azuis da ECO. Ah… e nem pelo balanço… Boato? Bom, boato não é fundamento. E dá-lhe AT!

Conheço investidores que têm Petrobras a custo médio de R$ 4,00 na carteira. Não sei se, na estratégia deles, teria valido o sacrifício de tentar “acertar” o preço na hora de comprar.

Estão ricos e estariam ricos mesmo que tivessem comprado por 10% mais. Talvez não estivessem ricos se tivessem vendido a R$ 4,40…

Em resumo:

– Os melhores ativos para trade não são, necessariamente, aqueles de melhor fundamento.
– Os melhores ativos para buy-and-hold não precisam da AT para fazer do investidor uma pessoa rica. Precisam de tempo, disciplina, aportes regulares, muito estudo de balanço e DRE etc..

AT e AF são abordagens válidas, mas é melhor para o investidor que tente ser “fera” naquela que escolheu. Se misturar, vai parecer uma loja da Victor Hugo tentando competir com a C&A no preço das bolsas.

Michael Porter já ensinava que o sucesso depende do foco na estratégia escolhida. No caso dele era preço x diferenciação. Na bolsa é AT x AF.

3. Quem destina mais de 4 horas por dia à bolsa é profissional

Nos últimos anos, em todo o mundo, proliferou a profissão de “trader”. Seria alguém que busca remunerar seu próprio patrimônio com acertos em seus trades.

Algumas pessoas fazem isso com financiamento de carteira através de opções, o que não é necessariamente trade, mas também tem suas peculiaridades.

Para o trader ou day-trader, segundos são importantíssimos. A oportunidade pode vir a qualquer hora, ele precisa de atenção à tela e às ferramentas que a corretora disponibiliza.

Em 2007-2008 ouvi muita gente dizer que ganhava mais dinheiro com os trades na bolsa do que com o próprio salário.

Pois bem, para essas pessoas e para outras que também dedicam um tempo relevante de seus dias para a bolsa, tenham em mente o seguinte:

– Vocês são profissionais de bolsa.

Não tem registro na CVM, pois não é preciso para gerir seu próprio patrimônio, mas você despende, às vezes, mais tempo para a bolsa do que para sua profissão de origem.

Isso tem custo. Tem custo de oportunidade, de depreciação e de obsolescência.

A comparação, falando apenas em termos econômicos, não deve simplesmente levar em conta aqueles momentos de bons trades e o salário do seu emprego.

Tenha em mente os seguintes custos:

Desinvestimento – Ao dedicar 4 horas ou mais para a bolsa, você pode estar colocando “a prejuízo” um investimento de centenas de milhares de reais, de 10 ou mais anos, que levaram você a ser médico, dentista, engenheiro, publicitário etc.

Limitação de carreira – Ao dedicar 4 horas ou mais para a bolsa, você tende a restringir as perspectivas de sua carreira na profissão de origem.

Acredite, dificilmente um trader, com dinheiro próprio, será mais bem sucedido que um médico gabaritado, que um cirurgião plástico de nível ou que um engenheiro de petróleo de uma multinacional.

As histórias de traders milionários, normalmente estão associadas à gestão do dinheiro de terceiros, não do próprio patrimônio. Não se iluda.

A ópera, em resumo!

O INI lançou há 5 anos seu Slogan “Formando Investidores Conscientes”. O leitor já deve ter percebido que a frase “deu cria”, pela quantidade de sites (até alguns institucionais) usando derivações e licenças poéticas do Slogan do INI.

Pois não há nada mais atual do que buscar ser um investidor consciente.

Isso não significa, em absoluto, usar AF em vez de AT, mas saber o que está fazendo, o que esperar de suas escolhas e quais os riscos, de forma AMPLA, em que está se envolvendo.

Infelizmente os riscos ou são vistos de forma estreita, sem levar em consideração os impactos em outras áreas de vida do investidor, ou são negligenciados.

Gente, eu sei que é chato falar dessas coisas, mas alguém precisa fazê-lo, não é mesmo?

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MAD – Método dos Aportes Dobrados – Exceções

Posted on 07/01/2011. Filed under: Finanças |

Após a divulgação do artigo sobre o MAD (Método dos Aportes Dobrados), muitos amigos, gestores de fundos, agentes autônomos e investidores começaram a testar o método nas cotas históricas de seus fundos e/ou clubes.

Recebi duas planilhas mostrando que o MAD não funcionou nos fundos estudados. Não vou revelar os fundos, pois não é o objetivo desse post.

A ciência…

Aprendi com a Prof. Sylvia Vergara, no Mestrado de ADM, que não há nada mais valioso para o (verdadeiro) pesquisador do que encontrar divergências nos resultados dos estudos. Essa é a fonte da evolução científica.

Pois bem, antes de estudar os casos isolados, fiz testes com valores aleatórios para o Ativo (Ibovespa originalmente) e com diferentes períodos. O resumo dos testes está a seguir:

  • Teste 1: Ativo aleatório entre (8.000 pontos e 73.000 pontos), 154 meses
  • Teste 2: Ativo aleatório entre (10.500 pontos e 73.000 pontos), 96 meses
  • Teste 3: Ativo aleatório entre (31.000 pontos e 73.000 pontos), 60 meses
  • Teste 4: Ativo aleatório entre (31.000 pontos e 73.000 pontos), 48 meses

Os resultados mostraram o MAD funcionando sempre, em todas as condições aleatórias, porém com uma diferença de ganho de rentabilidade média diminuindo de acordo com o número de períodos e com a amplitude dos pontos.

Quanto menor a amplitude e quanto menor o período, menor a diferença entre usar o MAD e não usar o MAD.

Clique AQUI para ver a planilha com os resultados.

Não resolveu…

Sinceramente eu esperava que esse teste objetivo fosse resolver a questão, mostrando que, quanto menor o período e a amplitude do ativo, maior a probabilidade de o MAD não funcionar.

Infelizmente ele funcionou em 100% dos estudos. Foram 30 estudos para cada TESTE, num total de 120 estudos. Acabou não resolvendo os casos acima.

Análise caso-a-caso

Passei à análise caso-a-caso.

1° Fundo

Para o primeiro fundo foi fácil descobrir os motivos pelos quais o MAD não funcionou. O fundo tinha oscilações de 20% a 110% ao mês, o que caracteriza gestão ativa e/ou fundo alavancado.

Nesse tipo de gestão, onde o risco é grande, o mais adequado para o investidor é entregar um volume de recursos do qual não vai precisar ao gestor, para que ele busque as rentabilidades espetaculares.

Sempre ciente de que (caso o fundo seja alavancado) pode perder mais do que investiu, como aconteceu com cotistas de alguns desses fundos durante a crise.

A resposta: Para esse tipo de fundo e para esse tipo de investimento, esqueça análise fundamentalista e formação de patrimônio de longo prazo. Não dá para misturar. Seria como estudar para um concurso da Magistratura, usando a coleção “Ofélia e Sua Cozinha Maravilhosa – 12 Volumes”.

2° Fundo

Para esse fundo as questões não foram respondidas de forma tão óbvia. Realmente o que fez o MAD ter resultado inferior aos aportes regulares foi a peculiaridade das cotas.

O MAD, para períodos inferiores a 7 anos (um ciclo econômico completo), pode apresentar resultados piores do que os aportes regulares se:

  • Houver um longo período de estagnação no início do período. Isso fará com que os aportes regulares sejam muito maiores do que os aportes do MAD.
  • O ativo se valorizar MUITO, de forma rápida e constante por muitos meses, do meio para a frente do período de análise.
  • Nos últimos 12 meses, houver desvalorização constante, porém pequena do ativo.

Tudo isso fará com que o investidor de aportes regulares coloque MUITO MAIS DINHEIRO durante a estagnação e o usuário do MAD coloque a maior parte de seus aportes na desvalorização final.

Cheguei a criar uma planilha sobre o MAD Ajustado, de forma que o investidor só dobrasse o aporte se o ativo caísse, por hipótese, 5% ou 10%, e vice-versa.

Foi um desastre completo. Resultados muito piores do que o MAD puro.

Para quem quiser conferir, clique AQUI.

A conclusão

Antes de finalizar, o investidor precisa entender que NÃO SE ESTÁ FALANDO DE PERDAS, mas de ganhos maiores ou menores.

No período de 1998 a 2010 o Ibovespa só apresentou 1 período de 6 altas seguidas (Jul/03 a Dez/03) e 1 período de 6 baixas seguidas (Jun/08 a Dez/08). Foram 2 períodos de 5 altas seguidas (Ago/99 a Dez/99 e Set/06 a Jan/07) e 2 períodos de 5 baixas seguidas (Mai/01 a Set/01 e Mar/02 a Jul/02).

No 2° Fundo estudado, em apenas 55 meses, há um período ininterrupto de 11 altas seguidas (Nov/08 a Set/09) e, após esse período, nos 13 meses seguintes, 10 foram de baixa, sendo 6 de forma ininterrupta.

São condições atípicas, porém possíveis.

Os estudos mostram que fundos alavancados pertencem a outro “planeta” de investimentos e que alguns perfis de valorização/desvalorização podem deixar os aportes regulares com melhor desempenho do que o MAD.

Como o futuro “a Deus pertence” (que os grafistas não me ouçam…), não há garantias de que o MAD vai ser SEMPRE melhor do que o MAR (método de aportes regulares), mas a probabilidade do MAD vencer é grande, dados os muitos testes feitos e a lógica por trás da técnica.

O MAIS IMPORTANTE!

Feliz da vida eu estou, pois a discussão aqui é se o investidor deve utilizar o MAR ou o MAD

Ambos significam “investir regularmente durante um longo período” para formação de patrimônio. Ou seja, independente do método escolhido, o investidor estará se comportando exatamente como dezenas de milhões de investidores ao longo dos últimos 2 séculos nos mercados desenvolvidos.

É o que o INI, a Federação Mundial de Investidores, a NAIC e outras dezenas de instituições sérias e respeitadas vêm pregando ao longo dos últimos 60 anos em 20 países.

É ou não é motivo para ficar feliz?

Agradeço também a qualidade da intervenção dos leitores do blog.

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  • Disclaimer

    Este blog é um ambiente privado para expor opiniões, estudos, reflexões e comentários sobre assuntos ligados a finanças, bolsa de valores, economia, política, música, humor e outros temas.

    Seus objetivos são educacionais ou recreativos, não configurando sob nenhuma hipótese recomendação de investimento.

    O investidor consciente deve tomar decisões com base em suas próprias crenças e premissas. Tudo que lê ou ouve pode ser levado em consideração, mas a decisão de investimento é sempre pessoal. Tanto na escolha de ações para carteira própria, quanto na escolha de gestores profissionais para terceirização da gestão.

    O Autor espera que os temas educacionais do blog possam ajudar no desenvolvimento e no entendimento das nuances do mercado de ações, mas reitera que a responsabilidade pela decisão de investimento é sempre do próprio investidor.

    Sejam bem vindos!

  • Paulo Portinho

    PAULO PORTINHO, engenheiro com mestrado em administração de empresas pela PUC-Rio, é autor do Manual Técnico sobre o Método INI de Investimento em Ações, do livro "O Mercado de Ações em 25 Episódios" e do livro "Quanto Custa Ficar Rico?", os dois últimos pela editora Campus Elsevier.

    Paulo atuou como professor na Pós-graduação de Gestão Social da Universidade Castelo Branco e na Pós-graduação oferecida pela ANBIMA de Capacitação para o Mercado Financeiro.

    Atuou como professor da área de finanças e marketing na Universidade Castelo Branco e no curso de formação de agentes autônomos do SINDICOR.

    Como executivo do Instituto Nacional de Investidores - INI (www.ini.org.br) entre 2003 e 2012, ministrou mais de 500 palestras e cursos sobre o mercado de ações, sendo responsável pelo desenvolvimento do curso sobre o Método INI de Investimento em Ações, conteúdo que havia chegado a mais de 15.000 investidores em todo o país, até o ano de 2012.

    Representou o INI nas reuniões conjuntas de conselho da Federação Mundial de Investidores (www.wfic.org) e da Euroshareholders (www.euroshareholders.org), organizações que congregam quase 1 milhão de investidores em 22 países.

    Atuou como articulista do Informativo do INI, do Blog do INI, da revista Razão de Investir, da revista Investmais, do Jornal Corporativo e do site acionista.com.br. Foi fonte regular para assuntos de educação financeira de veículos como Conta Corrente (Globo News), Infomoney, Programa Sem Censura, Folha de São Paulo, Jornal O Globo, entre outros.

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