Archive for março \30\-03:00 2012
Eletropaulo – Dívidas e Risco Regulatório – Formulário de Referência
Há alguns meses os fóruns de mercado fervilhavam com informações de que a Eletropaulo (ELPL4) não seria um bom investimento, pois havia riscos regulatórios (concessões) e jurídicos (ações na justiça) muito elevados.
Na realidade buscava-se explicação para a diferença entre os múltiplos fundamentalistas da Eletropaulo e da AES Tietê (GETI3), empresas com estruturas de controle semelhantes e atuando em setores complementares.
A questão principal: Qual o sentido da GETI ter P/L 12 e a ELPL ter P/L 4?
- A ELPL teve lucro, em 2011, de R$ 1,572 bilhão e valia, em 30/03/2012 R$ 6,446 bilhões.
- A GETI teve lucro, em 2011, de R$ 844 milhões e valia, em 30/03/2012 R$ 9,931 bilhões.
- A ELPL distribuiu R$ 1,207 bilhão a título de dividendos + JSCP, representando, com base no preço mínimo de mercado de 2010, um Dividend Yield máximo de 24,06%.
- A GETI distribuiu R$ 873 milhões a título de dividendos + JSCP, representando, com base no preço mínimo de mercado de 2010, um Dividend Yield máximo de 13,15%.
- O crescimento das receitas e lucros de ambas as empresas é semelhante, principalmente a partir de 2007.
Fonte: Comdinheiro.com – TIB – INI
A justificativa dos fóruns
Bom, havia algumas explicações recorrentes nos fóruns e sites que tratavam do assunto:
- A ELPL reduziu sua distribuição de dividendos para provisionar uma possível necessidade de devolver dinheiro aos consumidores, pois a ANEEL só vai definir a nova tarifa, com grande atraso, em meados de 2012.
- A ELPL tem uma dívida enorme com a Eletrobrás, que está em vias de ser executada.
- A concessão da ELPL iria se encerrar em 2015, exigindo nova licitação e possível devolução (com indenização) dos ativos ao Estado.
Bom, são mesmo questões assustadoras, que justificariam amplamente uma companhia com 1,6 bi de lucro valer apenas R$ 6,5 bi.
A explicação oficial está em algo que ninguém usa, que ninguém lê. Infelizmente. O Formulário de Referência (FRE).
Na esteira de exigir mais disciplina e transparência do mercado, o regulador passou a exigir em 2009 um documento completo onde a Companhia deveria trazer informações sobre todos os riscos relevantes que enfrenta ou poderá enfrentar.
É um documento grande e pouco difundido pelos RI´s, que dão preferência aos relatórios de resultado, mais simples e mais fáceis de entender.
Mas quando há dúvidas, o FRE revela-se uma fonte valiosíssima para o investidor.
O caminho do FRE
Raramente está exposto de forma destacada nas páginas de RI, até por sua complexidade e tamanho.
Pode ser encontrado tanto no site da BM&FBOVESPA quanto no site da CVM. Basta entrar no site da CVM e clicar em “ITR, DFP, IAN, IPE, FC. FR e outras Informações”, digitar o nome ou parte do nome da empresa e selecionar Formulário de Referência nas opções que aparecerão.
O que diz o FRE
Na parte 7 – Atividades do Emissor, item 7.5 – Efeitos da Regulação Estatal, há um documento de 19 páginas, bem completo, com o histórico dessa regulação e seus efeitos atuais.
Na página 18, está escrito:
“A Companhia opera, nos termos de um contrato de concessão, o negócio de distribuição de energia elétrica. O contrato de concessão, com término em 15 de junho de 2028, impõe exigências sobre as operações e os negócios. Estas exigências incluem manutenção e/ou aperfeiçoamento de determinadas normas de serviço, incluindo a frequência e a duração de interrupções no fornecimento de energia elétrica aos consumidores ou grupo de consumidores…”.
- A informação de que o contrato de concessão termina em 2015 é incorreta.
A dívida com a Eletrobrás está descrita na parte 4 – Fatores de Risco, item 4.3 – Processos Não Sigilosos Relevantes – página 8.
A informação é muito grande para transcrever aqui, mas até 2010 (o FRE de 2011 ainda não saiu, sai até o final de maio), o valor era de R$ 1,1 bilhão e, ao que tudo indica, está mesmo em vias de execução. Vale a leitura.
Outros itens relevantes.
Em outras áreas do FRE há a indicação de que a ELPL tem contrato com a Fundação CESP para arcar com déficits no fundo de pensão. É algo para ser pago em mais de 200 prestações, num montante próximo a R$ 1 bilhão.
Alguns itens nem precisam do FRE
Na apresentação que a ELPL fez à APIMEC em 16/03/2012 e em fato relevante divulgado em 27/02/2012, a Cia estimava que o impacto no fluxo de caixa será de, no máximo, R$ 357 milhões a título de revisão tarifária.
A companhia divulgou que fez retenção de lucro (Reserva Especial) da ordem de R$ 765 milhões em 2011.
Em resumo.
O investidor realmente interessado em ser ACIONISTA da companhia, tem um volume e uma qualidade de informação bastante significativa, para não deixar dúvidas simples sem resposta.
Apesar das questões reveladas, não dá para entender plenamente a defasagem do preço entre as companhias.
Os valores são muito grandes, mas a geração de caixa da Cia chegou perto de R$ 2,9 bilhões em 2011.
Ainda, a reserva especial provisiona um valor bem superior ao máximo que a Cia espera perder com o reajuste tarifário. Não está claro nem dito, mas pode ser a expectativa de ser executada pela ação judicial da Eletrobrás.
Não é fácil ser investidor consciente, mas a ELPL foi um pródigo ativo nos últimos anos, batendo de longe a renda fixa em termos de DY e ainda com valorização (pequena) na cotação.
Isso passou. Para o investidor consciente, as informações que o FRE e outros instrumentos transmitem, permite avaliar se o futuro poderá ser igualmente (ou suficientemente) pródigo.
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