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Educação financeira para crianças e jovens. O caso do cofrinho…

Posted on 05/02/2014. Filed under: Filosofia, Finanças |

Prezados,

Gostaria de retomar e aprofundar alguns conceitos tratados no livro “Quanto Custa Ficar Rico?”, referentes à educação financeira de crianças e adolescentes.

Mais especificamente quero discutir a diferença entre educar o jovem e fazer poupança para ele, e também demonstrar os efeitos interessantes do uso do cofrinho.

Fazer poupança para a criança NÃO é a mesma coisa que educar.

Essa confusão é muito frequente. Recebo muitos emails e questionamentos sobre qual a melhor aplicação a fazer para um recém-nascido ou para uma criança. Na maioria dos casos influenciados por algum gerente de banco que sugeriu uma previdência privada para os filhos.

Vamos lá…

Poupança para os filhos é algo válido, mas que pode ser perigoso.

A primeira questão relevante é se aquela poupança para o filho comprometerá a própria poupança (ou segurança financeira) dos pais.

Por mais que os amemos, não é uma boa estratégia comprometer sua própria aposentadoria para investir nos filhos. Isso não é egoísmo, pelo contrário, é evitar que seu filho precise sustentá-lo no futuro. Ou reduzir a necessidade de apoio.

Então, no meu entendimento, será mais útil, inclusive para a educação financeira dos filhos, que os pais não descuidem de sua própria estratégia previdenciária em troca de um hipotético benefício futuro aos filhos.

O exemplo de pais disciplinados com dinheiro também contribui para a educação.

O que é poupança para os filhos?

Supondo haver controle e disciplina (e renda) para destinar recursos à poupança dos filhos SEM descuido de sua própria estratégia previdenciária, há que se definir o que é poupança para os filhos ou para os próprios pais.

Juntar dinheiro para a faculdade dos filhos, para que compre um carro para ir à aula, para fazer um intercâmbio ou para garantir alguma renda ao filho, é mais uma poupança para os pais do que para os filhos.

Se você tivesse juntado esse dinheiro na sua própria conta, naturalmente arcaria com todas essas despesas dentro de sua função de pai e responsável, interessado no desenvolvimento e no conforto do seu filho.

É um dinheiro, digamos, “carimbado”. Se você juntou para a faculdade, não gostará (e tentará não permitir) que vire viagem de luxo, balada e outros itens de consumo.

Considero, para esses casos, que é melhor abrir uma conta em seu próprio nome para colocar esse dinheiro “carimbado”. Com segurança você vai usar ele corretamente no futuro, de acordo com o que planejou (estudo, intercâmbio, viagem, carro, transporte ou moradia em outra cidade para estudar etc.).

Dissociação entre custo e benefício

Outro ponto perigoso de se acumular dinheiro para dar aos filhos no futuro, sem um esforço paralelo de educação financeira, é entregar um grande volume de dinheiro a um jovem de 18, 20 anos.

Mesmo que a quantia seja pouco relevante diante do padrão de vida do jovem, aquela atitude pode transmitir uma falsa impressão de facilidade, no que se refere aos custos para se ganhar aquele dinheiro.

O efeito de uma previdência privada para o jovem pode ser ainda mais perigoso, pois entregar uma determinada renda garantida a quem faz, por hipótese, 21 anos, certamente transmitirá uma realidade bastante distinta da que se verifica na vida prática.

Não é garantido que uma renda garantida de R$ 2.000 vá comprometer o empenho no desenvolvimento profissional do jovem, mas pode acontecer. Pode mesmo. E não é raro.

E, mais uma vez, se o objetivo era garantir-lhe uma renda para reduzir seus gastos com o filho na vida adulta, é uma poupança para você, em primeiro lugar.

Em resumo, é tudo válido, mas não se pode deixar de analisar os riscos e “realizar” qual a verdadeira motivação.

Nada disso é, entretanto, educação financeira. É preciso aliança com outras práticas.

Educar é?

Um professor meu disse algo que nunca esqueço. E que concordo cada vez mais. Aprender é mudar.

Se você não mudou, não aprendeu. Aquele livro que você lê, e que não gera qualquer mudança em você, não lhe ensinou nada. Vale, talvez, como diversão.

É fundamental a mudança no sistema de valores. Mudança no sistema de valores significa, tão somente, hierarquizar o que é mais importante.

O que sugeri no livro, e que já vi acontecer em várias famílias (principalmente no exterior), é a formação de um portfólio em bolsa (ou a abertura de clube de investimento) que vai ser gerido pelos pais, até que os filhos possam participar das decisões (entre 10 e 13 anos).

Integrar o filho nesse processo intelectual de formação de patrimônio o ajudará a perceber o funcionamento dos mercados, da bolsa e da própria economia. E, principalmente, demonstrará claramente a relação entre risco e retorno. Aquele dinheiro que foi “dado” pelos pais, precisará de esforço do próprio filho para que cresça.

Para introduzir os pais (e depois os filhos) no mundo do investimento em bolsa escrevi um livro de princípios de investimento (O Mercado de Ações em 25 Episódios) e pretendo lançar, até abril, um novo método para seleção de empresas e montagem de carteiras.

Por que a bolsa?

Por que é o que fez as pessoas ficarem ricas ao redor do mundo. 30, 40 anos de investimento fizeram centenas de milhares de milionários, em dezenas de países, inclusive no Brasil.

E o investimento em renda fixa ou poupança, não requer tanta “educação” na gestão do recurso, apenas cabe educar na questão disciplinar. Guardar vs gastar, por exemplo.

Em bolsa há tudo, tanto a questão da disciplina para poupança mensal, quanto o desenvolvimento da estratégia para seleção de ações e montagem de carteira.

Aos 18 o jovem, provavelmente, terá plena noção do que significa acumular patrimônio no longo prazo. Dará outro valor ao dinheiro, à poupança e ao consumo.

E o cofrinho?

Well… para crianças menores, que ainda não conseguiriam aprender e participar da gestão de ativos em bolsa (a não ser que tenhamos um Mozart…), o cofrinho ilustra realidades interessantes para a educação financeira.

A experiência que fiz em casa, com minha pequena de 4 anos, foi interessante.

Ela ganhou um cofrinho de uma casa de festas. Expliquei que aquilo era um lugar para se colocar moedas todo dia. Depois de cheio, quebraríamos o cofrinho (cofrinho TEM QUE SER inviolável) e tiraríamos as moedas para comprar coisas que gostamos.

Comecei a levar as moedas de R$ 0,50 e R$ 1,00 que recebia de troco. Um pouquinho por dia. Antes de completar uma semana, ela começou a perguntar se não podíamos quebrar o cofrinho, pois ele já estava pesado.

Expliquei que o cofrinho ainda não estava cheio, que iria demorar a encher. Ilustrei da seguinte forma: Se nós abrirmos o cofrinho agora, vai ter pouco dinheiro e a gente só vai conseguir comprar coisa pequena, um M&M. Se a gente esperar encher, dá para comprar um carro da Barbie ou uma Draculaura. Ela resmungou: – Mas vai demorar…

Mais uma semana, ela olhou para o cofrinho e falou: – Papai, vamos comprar um M&M?

Já estava ficando decepcionado com a decisão, mas antes mesmo que eu contra-argumentasse ela disse: – Não, não, não. Quero uma Barbie!

Parece bobagem, mas é um primeiro contato com a dicotomia poupar vs consumir. Já há noção do valor do tempo, associando-o ao valor do que ela quer. Mais tempo, melhor o brinquedo (mais retorno)!

Lá pelo primeiro mês, senti que a euforia e o interesse estavam diminuindo. Comecei a mostrar, contra a luz, até onde as moedinhas preenchiam o cofrinho. Tentei fazê-la perceber, dia a dia, que o objetivo ficava mais próximo. Recuperou o interesse e, quanto mais perto de encher, mais interessada ficava.

Ao final, conseguimos juntar 133 reais em moedas para ela. Foi um “evento” familiar! Eu e a mãe sentamos à mesa e tentamos explicar o valor das moedas. Contamos juntos (ela não entendeu plenamente, claro, mas participou).

Levamos as moedas para as Lojas Americanas e dissemos: Filha, você pode comprar 1 presente muito bom e caro ou 4 presentes baratos.

Foram quase 40 minutos de perguntas: – Esse é caro? Esse é barato? Até que se decidiu por 4 brinquedos simples. Mas conseguimos trabalhar o valor diferenciado das coisas.

Um desdobramento que não tinha pensado ocorreu no último sábado. Estava em Ipanema, levando ela para comprar um baldinho de R$ 1,50. Entreguei as moedas para ela mesma pagar e, na frente da loja, havia um artista de rua dançando e patinando.

Ela ficou olhando e comentando por alguns minutos a performance. Depois sugeri que colocássemos aquelas moedas no chapéu do artista, como outras pessoas estavam fazendo. No que me disse a pequena: – Não papai, moeda é para o crofinho (ela fala assim), para juntar e comprar brinquedo!

A próxima fase é com um cofrinho maior, ampliando os objetivos!

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  • Disclaimer

    Este blog é um ambiente privado para expor opiniões, estudos, reflexões e comentários sobre assuntos ligados a finanças, bolsa de valores, economia, política, música, humor e outros temas.

    Seus objetivos são educacionais ou recreativos, não configurando sob nenhuma hipótese recomendação de investimento.

    O investidor consciente deve tomar decisões com base em suas próprias crenças e premissas. Tudo que lê ou ouve pode ser levado em consideração, mas a decisão de investimento é sempre pessoal. Tanto na escolha de ações para carteira própria, quanto na escolha de gestores profissionais para terceirização da gestão.

    O Autor espera que os temas educacionais do blog possam ajudar no desenvolvimento e no entendimento das nuances do mercado de ações, mas reitera que a responsabilidade pela decisão de investimento é sempre do próprio investidor.

    Sejam bem vindos!

  • Paulo Portinho

    PAULO PORTINHO, engenheiro com mestrado em administração de empresas pela PUC-Rio, é autor do Manual Técnico sobre o Método INI de Investimento em Ações, do livro "O Mercado de Ações em 25 Episódios" e do livro "Quanto Custa Ficar Rico?", os dois últimos pela editora Campus Elsevier.

    Paulo atuou como professor na Pós-graduação de Gestão Social da Universidade Castelo Branco e na Pós-graduação oferecida pela ANBIMA de Capacitação para o Mercado Financeiro.

    Atuou como professor da área de finanças e marketing na Universidade Castelo Branco e no curso de formação de agentes autônomos do SINDICOR.

    Como executivo do Instituto Nacional de Investidores - INI (www.ini.org.br) entre 2003 e 2012, ministrou mais de 500 palestras e cursos sobre o mercado de ações, sendo responsável pelo desenvolvimento do curso sobre o Método INI de Investimento em Ações, conteúdo que havia chegado a mais de 15.000 investidores em todo o país, até o ano de 2012.

    Representou o INI nas reuniões conjuntas de conselho da Federação Mundial de Investidores (www.wfic.org) e da Euroshareholders (www.euroshareholders.org), organizações que congregam quase 1 milhão de investidores em 22 países.

    Atuou como articulista do Informativo do INI, do Blog do INI, da revista Razão de Investir, da revista Investmais, do Jornal Corporativo e do site acionista.com.br. Foi fonte regular para assuntos de educação financeira de veículos como Conta Corrente (Globo News), Infomoney, Programa Sem Censura, Folha de São Paulo, Jornal O Globo, entre outros.

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