Archive for dezembro \14\-03:00 2011

A Lanterna na Popa – Difícil, mas Obrigatório

Posted on 14/12/2011. Filed under: Finanças |

Amigos,

Após muitos saudáveis embates na área da matemática, por conta de meu post sobre o “Paradoxo de Monty Hall”, retomo a economia com um tema não menos polêmico: Roberto de Oliveira Campos.

Estava (e estou) escrevendo um plano de negócios e me vi tentado a procurar o discurso de Roberto Campos quando da regulamentação do Mercado de Capitais em 1965. Lembro com clareza de que Roberto Campos dizia-se feliz por acreditar que a regulamentação ofereceria ao brasileiro uma oportunidade para poupança de longo prazo investindo em empresas brasileiras.

“Poupança de Longo Prazo na Bolsa????”

É isso mesmo. Infelizmente isso nunca se concretizou a contento. É capaz de haver mais aposentados no Missouri com ações da Marcopolo do que no Brasil inteiro. Por isso a citação é muito importante dentro do contexto do que estou elaborando.

Bom, quis aproveitar para comentar sobre sua autobiografia “A Lanterna na Popa”, tijolaço com quase 1.500 páginas de muita história, humor e polêmica.

Fiz questão absoluta de ler o livro integralmente, feito iniciado em 2007 e concluído em meados de 2008. Muito tempo, mas necessário para digerir tanta história.

Comento-o:

  • Campos, apesar da profícua vida pública e, principalmente, do incrível acesso aos mais elevados meios intelectuais e de poder, pouquíssimas vezes se deixa levar pela vaidade. No livro há, no máximo, 3 passagens em que o autor soa vaidoso. Isso é notável, dado que é uma autobiografia de alguém tão seguro de si.
  • Não existe qualquer outro livro disponível no Brasil que trate da história econômica do País com tanta propriedade e profundidade. É, provavelmente, o único livro de críticas à economia brasileira, aos seus dirigentes e aos seu empresários absolutamente livre, sem qualquer pudor ou medo. No Brasil de hoje, não consigo ver um comentarista ou pensador que seja absolutamente livre para dizer o que pensa. É pena.
  • O livro é engraçado. As polêmicas de RC são engraçadas, ainda mais para nós, em pleno século XXI, que sabemos quanto retrocesso o nacionalismo exacerbado nos trouxe.
  • A parte que trata da reserva de mercado da informática faz RC lembrar Don Quixote. Um idealista liberal lutando contra moinhos de vento cripto-capitalistas. Não perdoa ninguém e não teve papas na língua (ou calos nos dedos, ao escrever).
  • O episódio da transferência da capital para Brasília e a interferência política que atrapalhou os planos de JK para o RJ dá tristeza, ao menos aos cariocas.
  • O relato do último encontro com JK, antes do rompimento com o FMI, é sensacional. Ele entra na sala da presidência e, quando vê Celso Furtado, pensa: … (leia o livro para saber).
  • A frustração de Roberto Campos com o desfecho das solicitações do Brasil aos EUA, por conta do esforço de guerra, é de dar dó, pena mesmo. Não pena dele, mas de nós, pela qualidade de políticos que tínhamos.
  • No FMI, pela milésima vez tentando convencê-los que o Brasil honraria os acordos, RC intermediou conversa entre um ministro brasileiro e o representante do fundo. Após ouvir o ministro dizer que “ele é quem sabe o câmbio bom para café, carne etc.”, o gringo cochichou “O Brasil não tem uma política cambial, tem um homem-cambial”.

Muitos dos leitores assíduos do blog, e também os esporádicos, podem ter sérias restrições contra RC, mas, mesmo para estes, a leitura do livro é importante. Há episódios da história do Brasil que só estão documentados ali. Muitos episódios, alguns importantíssimos. A maioria deles mostrando aos origens de nossa dificuldade para prosperar como nação e como economia.

Como poucos vão ler a obra (1.500 páginas não são nada estimulantes…), seguem alguns links e algumas frases de Roberto Campos:

A Propósito de Roberto Campos

Ok! Roberto Campos. Você venceu.

“Nunca fui um atleta sexual. Usei moderadamente o direito de pecar por falta de cooperação”
em 12.abr.99

“Como diria um dos meus gurus preferidos, o Brasil é a amante que mais amei, mas a que mais me enganou”
Ao despedir-se do Congresso, em 3.fev.99

“O subdesenvolvimento não resulta de espoliação internacional ou falta de recursos naturais. É sempre um fenômeno cultural: misto de idiotice e mau-caratismo. Infelizmente, ambas as coisas são abundantes neste subcontinente”
em 25.ago.96

“(FHC) superou sua fase de subdesenvolvimento mental (marxista), o que prova tratar-se de doença grave e contagiosa, porém não incurável”
sobre a evolução teórica de Fernando Henrique Cardoso, em 25.ago.96

“A burrice, no Brasil, tem um passado glorioso e um futuro promissor”
em 6.nov.90

“A universidade brasileira apresenta um superávit ideológico e um déficit pragmático”
em seminário da Associação dos Diplomados da ESG, em 9.nov.70

“Pobre Marx! Ele planejou uma ciência. Mas o leninismo criou uma religião…completa, aliás, com um dogma (Das Kapital), um Vaticano (o Kremlin) e uma inquisiçã o (o Comitê de Defesa do Estado)”
em 25.nov.79

“Quando cheguei ao Congresso, queria fazer o bem. Hoje, acho que o que dá para fazer é evitar o mal”
em 22.dez.99

“As reformas não conseguirão piorar nosso manicômio fiscal. Mas, como dizia um engraxate da Câmara, não há perigo de melhorar”
sobre o projeto de reforma fiscal em tramitação no Congresso Nacional, em 15.dez.99

“A chamada “Terceira Via” é incompetência para praticar o capitalismo e covardia para aplicar o socialismo”
em 25.nov.99

“Para as esquerdas brasileiras, o socialismo não fracassou; é apenas um sucesso mal explicado”
em 1.jun.96

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Enigma matemático – A Porta dos Desesperados

Posted on 08/12/2011. Filed under: Matemática |

De volta à matemática… ou melhor, à didática.

Resolvi escrever sobre o enigma matemático/estatístico da “Porta dos Desesperados” por considerar insatisfatórias as explicações que encontrei na internet.

Há um sem número de sites que apresentam o dilema contra-intuitivo, alguns até o provam empiricamente, mas as pessoas comuns, sem ferramental matemático, continuam sem entender por que a resposta é SIM!!!!!

Vamos ao problema!

Imagine-se em um programa de auditório em que 3 portas são colocadas à sua frente. Atrás de uma delas há um prêmio milionário e atrás das outras duas não há nada.

O apresentador pede que você escolha uma das 3 portas. Após sua escolha, o apresentador vai até uma das duas portas restantes e a abre, mostrando que está vazia. Daí ele faz a pergunta:

– VOCÊ QUER TROCAR DE PORTA, OU PREFERE MANTER A PORTA QUE ESCOLHEU?

A maioria das pessoas. Maioria MESMO, tipo 99%, responde que tanto faz. Pois há 2 portas restantes e em apenas uma há o prêmio. Para a maioria das pessoas a probabilidade é de 50%-50%.

Mas a matemática e a teoria das probabilidaes indica que você deve responder SIM, EU QUERO TROCAR. Isso lhe daria uma probabilidade 2 vezes maior de ganhar o prêmio. Estranho, não?

Para quem não acredita, pode fazer o teste empírico (na prática) AQUI.

Sou um pobre mortal. E pobres mortais abrem o “espaço amostral”.

Sempre gostei de probabilidade, apesar de saber que é uma das áreas mais difíceis para matemática pura. Porém, desde sempre, soube que gente normal precisa encarar probabilidade com humildade. Quase tudo é contra-intuitivo.

Humildade nesse caso é abrir o espaço amostral, ou seja, identificar o conjunto de todos os resultados possíveis de um evento. Só depois calcular a probabilidade.

Feito isso, o problema fica bem fácil e qualquer um pode entender.

Espaço amostral

 

 

 

 

 

 

Antes de fazer o cálculo, veja que só abri o espaço amostral para escolha da porta 1. É que as portas, em princípio, são idênticas. Se fizer mais 3 espaços amostrais o resultado será o mesmo. Basta o que está acima.

Veja que o EVENTO não é “escolher uma porta” apenas. São 2 eventos: “escolher uma porta” e “trocar”

O que se percebe pelos resultados acima é que ele ganha 2 vezes e perde uma toda vez que troca de porta.

Isso significa que, mesmo antes de o experimento se iniciar, já se sabe que, ao escolher TROCAR, sua probabilidade de ganho é de 2 para 1. São 66,7% de chance de ganhar e 33,3% de chance de perder.

That´s All folks.

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Lições da Islândia. A ressurreição de um país.

Posted on 02/12/2011. Filed under: Finanças |

Nobres leitores,

Tenho lido bastante sobre os desdobramentos do colapso econômico da Islândia, sempre na intenção de escrever sobre a história notável desse país. Mas não estava conseguindo.

Acabo de descobrir o motivo!

É que os últimos 5 ou 6 anos da história econômica da Islândia merecem um tratado de economia. Poucos posts num blog não fariam justiça ao episódio mais fértil para estudos econômicos de que se tem notícia.

A islândia passou por, praticamente, todos os eventos econômicos possíveis em curto espaço de tempo. Alavancagem excessiva, controle de capitais, nacionalização de bancos, acordos com o FMI, congelamento de poupanças, brigas judiciais com outros países etc.

Um pouco de história.

Sendo breve, a Islândia oferecia contas de poupança a estrangeiros, com rentabilidade muito boa em EURO. Muitos ingleses, alemães e holandeses aproveitaram essa rentabilidade, colocando suas economias nos bancos islandeses.

Mas a moeda da Islândia é a coroa… A falta de controle fez com que a dívida dos bancos islandeses superasse em muitas vezes o PIB do país. Com a crise de 2008 houve corrida aos depósitos (e outros fatores) e o país colapsou. Principalmente por questões monetárias (falta de EURO).

Há uma série de posts sobre essa época no Blog. Apesar da tristeza do episódio, eles são bem humorados. Para quem tem tempo, quer conhecer um pouco da história e dar algumas boas risadas, seguem os links:

Venezuela por um dia!

Novidades da Islândia (1)

Novidades sobre a Islândia (2)

Por que um tratado de economia?

Bom, a Islândia aplicou controle no câmbio, congelou o pagamento da dívida externa, reteve os depósitos de estrangeiros, submeteu-se ao FMI, nacionalizou bancos e… está conseguindo sair dessa!

É evidente que o país entregou muito de sua riqueza e que, provavelmente, não conseguirá recuperá-la tão cedo, porém a situação da Islândia, HOJE, é muito menos preocupante do que a de Portugal, Grécia e Espanha.

Isso porque já está em processo de solução há alguns anos, enquanto que os PIIGS ainda não entraram no processo de solução. Aliás, ainda estão na fase de “construção” do problema. Suas ações e principalmente as ações de seus pares menos endividados continuam empurrando a zona do Euro para o buraco.

Iceland Prepares First $3.3 Billion Depositor Claims Payment

Iceland May Take Next Step in Capital Liberalization Program Within Weeks

As notícias acima mostram que o país vem reorganizando sua economia e já está preparado para iniciar o pagamento das dívidas com correntistas estrangeiros. Além disso, está próximo de iniciar o processo de liberação do câmbio e de capitais, hoje controlados para evitar oscilações indesejáveis.

Alguns números interessantes:

  • Segundo o FMI a economia da Islândia deverá crescer mais do que a da zona do Euro em 2011 e 2012
  • O desemprego está em 6% contra 9,9% da média da Zona do Euro
  • A Islândia está com superávit nas contas públicas, já a Zona do Euro…

O curioso dessa história é que o FMI fez severas imposições à Islândia, porém compreende questões antes proibidas como controle do fluxo de capitais e do câmbio.

As lições da Islândia

Há muito o que estudar ainda, mas alguns pontos, em minha opinião, ajudaram a Islândia a se recuperar, ainda que parcialmente, do maior colapso financeiro que um país já sofreu:

  • Ausência total de influências ideológicas e políticas nas decisões econômicas islandesas. Ninguém fica discutindo se o câmbio será controlado para sempre ou se deve-se ou não aceitar as imposições fiscais do FMI. Não se perdeu tempo com isso.
  • O seguro contra default da dívida (CDS) da Islândia é bem menor do que o da média da zona do Euro.
  • Disciplina e um povo altamente educado.
  • Imperativo de respeito aos contratos. Mesmo sem dinheiro, a Islândia mostra querer honrar as dívidas, principalmente com os investidores individuais de outros países. Acionistas e detentores de títulos devem perder tudo, ou quase tudo, mas estavam em mercado de risco.
  • Ter moeda própria. Ter instrumentos de política monetária.

O país é muito pequeno, o que talvez favoreça a existência desses fatores, dessa homogeneidade.

Infelizmente os países sul-americanos, durante suas fases agudas de crise monetária, não podiam contar com os pontos acima, só com o último. Mas o que faziam também não ajudava.

Por isso (e por outros motivos) levamos décadas para conseguir fazer o que a Islândia pode conseguir em 5 anos (pretende abandonar o controle de câmbio e capitais em 2013). A Argentina, infelizmente, ainda não conseguiu fazer isso. Aliás, a Argentina se acerta no remédio erra na dose, se acerta na dose erra no remédio. Que pena.

Continuo torcendo para a Islândia sair dessa! Afinal, será uma saída baseada em virtudes: ética, respeito a contratos (palavra escrita) e defesa da soberania.

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    Este blog é um ambiente privado para expor opiniões, estudos, reflexões e comentários sobre assuntos ligados a finanças, bolsa de valores, economia, política, música, humor e outros temas.

    Seus objetivos são educacionais ou recreativos, não configurando sob nenhuma hipótese recomendação de investimento.

    O investidor consciente deve tomar decisões com base em suas próprias crenças e premissas. Tudo que lê ou ouve pode ser levado em consideração, mas a decisão de investimento é sempre pessoal. Tanto na escolha de ações para carteira própria, quanto na escolha de gestores profissionais para terceirização da gestão.

    O Autor espera que os temas educacionais do blog possam ajudar no desenvolvimento e no entendimento das nuances do mercado de ações, mas reitera que a responsabilidade pela decisão de investimento é sempre do próprio investidor.

    Sejam bem vindos!

  • Paulo Portinho

    PAULO PORTINHO, engenheiro com mestrado em administração de empresas pela PUC-Rio, é autor do Manual Técnico sobre o Método INI de Investimento em Ações, do livro "O Mercado de Ações em 25 Episódios" e do livro "Quanto Custa Ficar Rico?", os dois últimos pela editora Campus Elsevier.

    Paulo atuou como professor na Pós-graduação de Gestão Social da Universidade Castelo Branco e na Pós-graduação oferecida pela ANBIMA de Capacitação para o Mercado Financeiro.

    Atuou como professor da área de finanças e marketing na Universidade Castelo Branco e no curso de formação de agentes autônomos do SINDICOR.

    Como executivo do Instituto Nacional de Investidores - INI (www.ini.org.br) entre 2003 e 2012, ministrou mais de 500 palestras e cursos sobre o mercado de ações, sendo responsável pelo desenvolvimento do curso sobre o Método INI de Investimento em Ações, conteúdo que havia chegado a mais de 15.000 investidores em todo o país, até o ano de 2012.

    Representou o INI nas reuniões conjuntas de conselho da Federação Mundial de Investidores (www.wfic.org) e da Euroshareholders (www.euroshareholders.org), organizações que congregam quase 1 milhão de investidores em 22 países.

    Atuou como articulista do Informativo do INI, do Blog do INI, da revista Razão de Investir, da revista Investmais, do Jornal Corporativo e do site acionista.com.br. Foi fonte regular para assuntos de educação financeira de veículos como Conta Corrente (Globo News), Infomoney, Programa Sem Censura, Folha de São Paulo, Jornal O Globo, entre outros.

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