Europa e EUA vão parar de imprimir dinheiro? Só acredito vendo…

Posted on 15/04/2022. Filed under: Finanças | Tags:, , , |

Que acompanha meu canal no YT sabe que venho alertando para uma armadilha “japonesa” em que EUA e União Europeia estão se metendo desde 2008.

O Japão foi o primeiro país a brincar de sustentar seu crescimento com dinheiro público e juro zero, que significa, na prática, que o banco central imprime dinheiro e encharca os bancos com capital barato e de baixo risco.

Isso trouxe o cenário de crescimento baixo e juro real negativo que o Japão enfrenta há 30 anos, porém garantiu o status de país rico e desenvolvido.

Por que o Japão conseguiu brincar disso?

Obviamente só quem pode brincar disso é quem tem moeda forte e participação relevante no comércio internacional, o que é o caso do Japão desde os anos de 1980. A moeda japonesa tem participação maior no comércio e nas reservas internacionais do que a participação do PIB japonês, o que lhe garante estabilidade monetária em relação ao Euro e ao Dólar. Como se vê nos gráficos abaixo.

Além disso, o Japão brincava disso sozinho, portanto o mundo pouco sentia. Agora a situação mudou, com mais gente tentando fazer o mesmo desde, pelo menos, 2008.

Dá para todo mundo brincar de imprimir dinheiro sem parar?

Observe esse gráfico com a evolução dos balanços dos bancos centrais do G4, desde 2008.

Esse é um tipo diferente de “impressão de dinheiro”. O gráfico mostra o tamanho dos ativos que estão nos bancos centrais desses países. Esses ativos são comprados pelos próprios bancos centrais a partir de impressão de dinheiro/títulos que são trocados com os bancos e o sistema financeiro. Para manter os juros negativos ou próximos de zero, os bancos centrais precisam inundar o mercado financeiro e bancário com títulos de alto nível. É demanda e oferta de dinheiro. Quando tem muito, as pessoas só tomam crédito se for baratíssimo.

Após 2008, os balanços dos bancos comerciais foram dilacerados pelas baixas contábeis de recebíveis diversos, principalmente imobiliários. Havia um medo de que o sistema quebrasse e não houvesse mais liquidez para emprestar a quem precisa. A solução encontrada foi recomprar trilhões de dólares e euros desses bancos, retirando títulos menos líquidos e mais arriscados e adicionando títulos públicos de alto nível. Com esse “saneamento”, os balanços dos bancos ficaram robustos e eles puderam emprestar para evitar o colapso do sistema financeiro.

E com o excesso de capital (esse dinheiro injetado pelos bancos centrais é no sistema financeiro, não é dinheiro para gasto público, mas para empréstimo), tivemos esse boom de investimentos e empréstimos baratíssimos ao setor produtivo e ao consumidor.

A aposta dos dirigentes era de que esse excesso de dinheiro geraria inflação, porém eles estavam errados, e aparentemente até hoje não entenderam o porquê. Excesso de capital não gera excesso de demanda no fim da fila do consumo, mas bem antes disso gera excesso de investimentos, redução de custos de capital das empresas, aumento da concorrência (pois qualquer um pega dinheiro barato) e, consequentemente, redução de custos. Enfim, não gerou inflação, apesar dos trilhões emitidos.

Perceba que a coisa estava em certo equilíbrio até a COVID, quando os bancos centrais passaram a imprimir ainda mais, em grande parte para financiar, indiretamente, o déficit gerado pela parada das economias e o gasto público.

Perceba que o FED passou a comprar muitos títulos de longo prazo do Tesouro Americano. Isso foi feito provavelmente, para retirar esses títulos do mercado e abrir espaço para o governo emitir diretamente ao público e captar para bancar os déficits da COVID. Uma estratégia para evitar que o marcado não tivesse interesse nas novas captações. Mas, ainda assim, uma estratégia marota de criar uma riqueza falsa a partir de um interesse falso dos players do mercado.

O dinheiro que gera inflação chegou em 2020.

Até a COVID os bancos centrais ainda pareciam se preocupar com o excesso de liquidez, buscando reduzir as compras mensais de ativos dos bancos e subir os juros, mas isso foi por água abaixo com a pandemia.

As elevações na relação dívida/PIB nos países desenvolvidos oscilou entre 15% e 30%. Isso não é dinheiro dos bancos centrais, é dinheiro captado pelos tesouros nacionais e, em sua maioria, gastos durante a Pandemia, tanto com custos de saúde (os EUA pagaram tudo para todos) quanto com auxílios e benefícios. E muita coisa ainda continua sendo paga e os gastos continuam altos.

Esse dinheiro é inflacionário, pois gera consumo direto na ponta, tanto pelas pessoas quanto pelos governos. E fica ainda mais inflacionário num ambiente em que as cadeias de suprimento e produção simplesmente pararam.

A guerra na Ucrânia e a inflação

Em tese, após a COVID (que ainda é um flagelo em várias partes do mundo, a China hoje, 15/04/2022, está em lockdown, por exemplo) as linhas de suprimento poderiam voltar ao normal e, pelo menos, aumentar a oferta de bens no comércio mundial, porém veio a guerra e todo o quadro mudou.

A guerra está causando um choque nas commodities, de preço e de oferta, que provavelmente demorará muito tempo para retornar, se é que retornará. A previsão para o futuro imediato é de queda brutal no comércio de fertilizantes e possível falta de produtos agrícolas nos próximos meses.

Além disso, as sanções impostas à Rússia estão forçando um retrocesso na globalização, com possível retorno do comércio ideológico entre blocos de países. Comércio ideológico é quando o que vale principalmente é a questão geopolítica e não a econômica. E o prejuízo potencial disso é incalculável.

Principalmente se essa ideologia chegar ao mercado de moedas. E aí chegamos ao nosso ponto.

Por que os países ricos se importariam com a inflação, se basta imprimir dinheiro e entupir os países exportadores de dólares e euros?

Essa é a questão principal. Até a primeira década dos anos 2000, a maioria dos países emergentes tinha problemas com balança de pagamento e pouquíssimas reservas em moeda forte. Praticamente todos os choques econômicos foram em função de quebradeira cambial nesses países.

Isso mudou radicalmente. A maioria dos países exportadores hoje tem excesso de reservas, bem mais do que o necessário para transacionar no comércio internacional e garantir o fluxo de capitais. Esses excessos de “impressão de dinheiro” nos países ricos acabaram parando nos balanços dos países emergentes, que hoje têm trilhões de dólares de reservas e, em tese, não precisariam mais ser entulhados com phony money.

A riqueza desses países ricos é garantida, em grande parte, por emitirem papéis que todos aceitam. É claro que produzem e exportam muito, mas sem a capacidade de imprimir dinheiro aceito por todos, a riqueza seria muito menor. Veja o caso das dívidas soberanas de Portugal, Itália, Grécia e Espanha há alguns anos. Se não estivessem denominadas em Euros, os países teriam quebrado em nível semelhante ao que acontecia com os emergentes na década de 1990, e com os próprios países europeus periféricos antes da zona do Euro.

E esses países vão continuar ricos enquanto puderam brincar com a impressorinha de dinheiro e todos aceitarem o papel que sai de lá. Isso é certo. E eles sabem disso.

Imagine, por exemplo, que os EUA precisem aumentar o orçamento de guerra em 3 trilhões de dólares, isso elevaria os custos de commodities associadas, que eles pagariam apenas imprimindo mais dinheiro. Mas e se o vendedor exigir bens reais, ou limitar a aceitação de dólares? Impensável há alguns anos.

Mas é possível que esse poderio monetário dos países ricos seja revertido?

Essa parte do texto é exploratória. É território não mapeado. Eu realmente não sei e vou fazer um brainstorming com os leitores.

O mundo mudou demais nos últimos 30 anos, há novas tecnologias, os países ricos chutaram o balde monetário e nem fingem mais de austeridade. Aquela pregação do FMI morreu. Difícil saber o que vai acontecer. Mas uma coisa parece certa, os países ricos ficaram viciados em imprimir dinheiro e não sabem como voltar atrás. Enquanto era só o Japão brincando disso, ok, agora com 50% do PIB mundial entrando na brincadeira, a coisa muda de figura.

Em pleno abril de 2022, com a maior inflação dos últimos 30 anos, a presidente do BCE, Christine Lagarde, está fingindo que o problema nem é com ela. Disse que a inflação atingiu um topo e vai cair sozinha. Pronto. Fazer nada. Nada de aperto monetário, austeridade ou parar de bombear riqueza fake nos balanços dos bancos. O Fed também está vendo a maior inflação desde o segundo choque do petróleo e tentando controlar com promessas de alta de juros. Um dia, quem sabe, subir 0,5%. E mesmo assim os títulos de 30 anos estão pagando apenas 3% ao ano, com inflação próxima de 10%. Capaz da inflação de 2 a 4 anos retirar metade da rentabilidade real esperada para o título em 30 anos.

Enquanto isso os países que não contam com essa impressora infinita, aumentam os juros significativamente, como o Brasil.

Mr. Smith e Mrs. Elizabeth vão brincar até que alguém consiga fazer a música parar. E como isso poderia ser feito?

Criptos?

Realmente não sabemos como parar a música, mas alguns caminhos, bem conturbados, poderiam ser imaginados, como, por exemplo, parte do comércio internacional começar ser feito com uma criptomoeda com algoritmo anti-inflacionário.

Calma, isso não tem nada a ver com bitcoin, apenas com a tecnologia de criar uma representação monetária de uma cesta de moedas que oscilaria levando em conta a disciplina fiscal dos países.

Certamente os países ricos não participariam disso, e provavelmente até iriam à guerra comercial contra essa iniciativa. As sanções econômicas aplicadas à Rússia são verdadeiramente um ato de guerra. Se os EUA pararem de proteger a Arábia Saudita, poderá provocar uma guerra.

Na verdade, as sanções impostas à Rússia podem ter acelerado a ideia de uma moeda não passível de sanção. Para a Rússia, Euro e Dólar perderam muito a utilidade. Como moeda de troca imediata ainda valem, mas como reserva, não valem nada, pois a qualquer momento podem ser confiscadas (grande parte já foi). E esse tipo de ação retira boa parte da fidúcia (confiança) da moeda fiduciária.

Um movimento parte ideológico, parte monetário e parte de autopreservação contra o poderio monetário dos países ricos, poderia criar uma moeda de troca internacional, entre os países participantes, com algoritmo não inflacionário, ou seja, as relações de troca com outras moedas oscilarão, em relação à nova unidade monetária, de acordo com a disciplina fiscal dos países, e suas inflações relativas.

A China poderia aportar yuan, a Rússia rublo e a Índia rupia, transformando aquele aporte em unidades monetárias de curso da nova moeda entre o grupo econômico. Não só os países poderiam acessar, mas principalmente os exportadores/importadores.

A esfera de influência econômica da China beira 80 países, dos mais pobres do mundo, que poderiam participar diretamente disso. Bem como o bloco ideológico antiamericano do Oriente Médio e em parte da América Latina.

Possível é, e nem muito difícil seria.

A Rússia, por exemplo, passou a pedir para ser paga em rublos, mas isso é bem difícil de dar certo. O contrário teria mais chance de funcionar. Se a China começasse a exigir que suas compras sejam pagas em yuan, os exportadores vão acabar, eventualmente, aceitando, ou perdendo esse mercado insubstituível. E de uma hora para outra a moeda já passaria a representar 20% do trânsito monetário no comércio internacional.

Difícil não é, mas a questão é essencialmente geopolítica. Os países ricos totalmente endividados e confiantes de que sua riqueza será mantida, pois podem imprimir papel e comprar carne da Argentina e cobre do Chile, provavelmente vão lançar uma guerra comercial violenta contra o bloco ideológico/monetário e o empobrecimento do mundo será sem igual, nível segunda guerra. Provavelmente isso entregará todos os avanços econômicos da globalização. Todos.

Outra opção para a queda desse poderio monetário, seria o fim da globalização e início de uma guerra fria comercial.

Se os movimentos atuais não gerarem uma guerra quente mundial, ainda não está claro que esse desfecho não esteja no radar, uma possibilidade é de retorno ao comércio ideológico da época da guerra fria, em que parte do mundo não conversava monetariamente.

Ocorre que o bloco emergente é hoje bem mais influente do que o bloco comunista da época.

A visão dos emergentes é bem mais ideológica/religiosa do que o que se encontra nos países ricos, que são cada vez menos religiosos, cada vez mais pós-modernistas, cada vez menos racionais e mais consumistas. As medidas contra as mudanças climáticas, por exemplo, deixaram Europa e EUA reféns não só da produção de energia do exterior, como também da incrível necessidade de extração de matéria-prima para dar conta de tantas baterias e de tanta infraestrutura inteiramente nova.

Uma recessão prolongada, com falta de produtos e empobrecimento rápido da população, sem esperança real de melhoria no médio prazo, seria encarado pela maioria esmagadora dos países emergentes e pobres como nada muito diferente do que já vivem, ou dos riscos aos quais sempre estiveram submetidos.

Para países com forte viés ideológico e controle de sua economia e de sua população, o nacionalismo e o sentimento de pertencimento podem fazer com que o povo aceite uma redução nos seus padrões de vida sem grande ruptura social. Na verdade, a maioria dos países não está em situação confortável e pouca coisa mudaria. Os ventos da globalização pararam de ventar há alguns anos, e só quem imprime dinheiro está se safando.

Porém é bastante incerto o que aconteceria nos países ricos, em termos políticos, se afundassem numa recessão e passassem a não mais comandar o movimento ideológico mundial (democracia representativa, livre comércio, organismo multilaterais, pautas de gênero, raciais e ecológicas etc.).

Não surpreenderia o surgimento de líderes nacionalistas e populistas prometendo enfrentar o inimigo externo. Na verdade, nacionalistas e populistas já estão crescendo bastante na Europa e isso pode trazer um revés incontornável para as pautas identitárias, verdes e globalistas (tudo aquilo que pretende se tornar uma ideologia global dominante).

Qual o cenário imediato menos dramático?

Penso que seria uma conjunção do seguinte:

  • Fim da guerra na Ucrânia, qualquer que seja a concessão necessária.
  • Fim das sanções à Rússia e fim da retórica ameaçadora dos EUA. A Janet Yellen advertiu todos os países que ficarem neutros na guerra. Neutros. Isso é uma ameaça infundada e um sinal preocupante.
  • Fim da COVID, ou que se torne uma doença como outra qualquer.
  • Retorno imediato das cadeias produtivas.
  • Europa e EUA começarem a reduzir seriamente seus balanços, aumentar os juros para patamares normais e acabar para sempre com o quantitative easing (essa praga que viciou o sistema financeiro).
  • Todos os países relevantes dançarem a mesma música, a da austeridade monetária e fiscal.

Mas também acho que não deve acontecer nada disso. É wishful thinking.

A aposta dos países ricos não parece ser essa, creio que nenhum desses cenários está considerado (talvez o fim da COVID). O que eles estão esperando é que tudo permaneça mais ou menos na mesma, e que a inflação ceda em algum momento, para que possam continuar imprimindo dinheiro. É esse o grande plano.

Para isso dar certo e eles poderem voltar a imprimir dinheiro sem que ninguém note, não é possível que a riqueza falsa criada nos últimos anos continue e ainda se amplie com mais dinheiro impresso. Deveria haver um empobrecimento generalizado nesses países. Não dá para, do patamar de riqueza em que estão, no preço dos ativos reais e de bolsa, eles continuarem a imprimir dinheiro nesse nível e a inflação mundial arrefecer. Além de tirarem o espaço de consumo de outros países que precisam se desenvolver.

Os ajustes no mercado de renda fixa

Uma parte dessa perda já está em andamento, o mercado de títulos de dívida está colapsando, fazendo desaparecer mais de 2,5 trilhões de dólares em valor. E os juros subiram, porém não fazem cócegas na inflação, portanto a perda real é ainda maior.

Mas isso é ainda bem pouco, e para ser duradouro os juros precisam subir e ficarem altos.

O ajuste cambial

Existe a questão cambial. Não é possível passar anos imprimindo dinheiro sem controle e esperar que esse dinheiro seja cada vez mais valorizado. É o contrassenso econômico mais evidente no mundo hoje.

Para resolver isso, a inflação deveria durar o suficiente para que parte da riqueza fake gerada pela impressão de dinheiro fosse reduzida e ficasse em linha com a produtividade dos países. Inflação é isso, um lembrete de que não somos tão ricos.

Para que haja espaço para novas emissões, seria necessário uma forte perda de valor das moedas fortes em relação às moedas dos principais exportadores, pelo menos. E isso até pode acontecer, mas será acelerado se houver um movimento coordenado de exportadores para forçar a diversificação monetária. Isso implicaria em inundar o mundo com dólares e euros de volta, o que poderia fazer as moedas perderem valor.

Isso pressionaria demais a inflação local nesses países, que teriam realmente que subir os juros, pois caso contrário ninguém financiará seus déficits, porém, em um segundo momento, tornaria esses países mais competitivos no mercado internacional. Seria até saudável no médio prazo.

Os ajustes nos ativos reais e nas ações

Além da queda nos preços dos ativos de renda fixa e da queda no poder de compra da moeda causada pela inflação, também é necessário desinflar o preço dos ativos reais.

O mercado imobiliário está sofrendo com a alta dos juros para empréstimos de 30 anos, pressionando o mutuário americano. A questão é que esse mutuário tem a imagem de 2008-2010 bem firme na cabeça, e sabe que uma quebradeira geral no mercado, poderia acabar beneficiando-o no médio prazo com o derretimento dos valores dos imóveis e o refinanciamento de dívidas com grande redução nos principais.

O americano que estiver pagando muito pela hipoteca, e vendo o imóvel desvalorizar, deve estar, nesse momento, torcendo por um novo colapso.

Com relação às ações, estamos vendo ainda preços muito altos, mas isso é principalmente devido ao crescimento das Big Techs, que ganham demais com a infraestrutura de nuvem e serviços. Isso realmente disparou no mundo pós-COVID.

Muitas empresas, assim como no Brasil, já estão 50% mais baratas do que no auge, algumas perdendo muito mais, principalmente no varejo.

O que pode pressionar significativamente as ações vitoriosas é o custo de energia e de matéria prima. Mais do que isso, se houver escassez de semicondutores ou comércio ideológico de lítio, terras raras e outros elementos importantes para o desenvolvimento tecnológico, não será nem uma questão de preço, mas uma questão de não conseguir comprar mesmo.

E isso é muito sério. Enquanto escrevo, a China faz manobras perto de Taiwan, em resposta à visita provocativa e desnecessária de Nancy Pelosi, que nem é chefe de estado.

Com a China controlando Taiwan, o lucro das Big Techs vai estar quase inteiramente dependente do que a China entender necessário vender. 90% dos semicondutores mais avançados são produzidos em Taiwan.

Enfim, o que vai acontecer é….

Não faço ideia, mas não me parece que as soluções serão as mesmas de sempre. Não me parece que empurrar com a barriga para ver onde vai dar seja uma solução plausível dessa vez, ainda que seja exatamente o que o FED e o BCE aparentam fazer nesse momento.

Relendo tudo o que escrevi, para fazer esse longo artigo de opinião, seria leviano se não dissesse que a primeira coisa que me vem à cabeça é GUERRA. Não sei se a terceira guerra mundial, uma guerra econômica protecionista ou um retorno gradual ao comércio ideológico e geopolítico da guerra fria.

A resposta dos países ricos à guerra na Ucrânia, cancelando a Rússia e fazendo ameaças diretas aos países neutros, provocando a China em Taiwan e o Paquistão com participação na queda do primeiro ministro, dão a impressão de que querem que o clima esquente de fato. Consigo pensar em alguns motivos para serem beneficiados com esse clima quente. Seriam:

  • Aumento do gasto militar para mais de 2% do PIB na Europa e 6% nos EUA.
  • Corrida armamentista também nos emergentes.
  • Cortina de fumaça para que ninguém questione a impressão desenfreada de dinheiro.
  • Alguém para culpar pela inflação mais alta dos últimos 40 anos. Não podiam culpar as medidas contra COVID, pois foram propostas por eles mesmos. Os EUA já chamam de “inflação do Putin”.
  • Motivo para imprimir mais dinheiro sem prestar contas (gastos militares).
  • Enfraquecer militarmente a Rússia, destruindo suas formas de financiamento e aproveitando os 600.000 homens treinados pela OTAN na região de Donbass nos últimos 8 anos para infligir grandes perdas militares.

Para dar certo, tem que combinar com os russos. E com os chineses, indianos, árabes etc.

E o Brasil?

O Brasil está sendo pressionado nesse momento, pela OMC, a aumentar a oferta mundial de alimentos. E também recebeu indiretas da Janet Yellen por ter ficado em cima do muro.

Fiquei um pouco preocupado com as sanções aplicadas à Rússia, até então inimagináveis, como o congelamento de bens no exterior, de reservas e perseguição a empresas russas. Se fazem isso com o Brasil a gente volta 50 anos.

E, infelizmente, os países ricos já alertaram que esse tipo de sanção poderá ser usado contra países “negacionistas do clima”, “anti-democráticos” etc., ou seja, podem ser usados contra qualquer país que não se alinhe à ideologia dessa democracia pós-moderna que é praticada nos EUA e na Europa. O Brasil já é alvo disso e a coisa pode apertar no futuro.

Para o Brasil o ideal seria que ambos os lados ficassem suficientemente fortes para que não fôssemos forçados a nada. Ou fracos e receosos de ampliar crises econômicas e militares. De qualquer forma, o que ficaria ruim para nós seria virarmos marionete de interesses estrangeiros explícitos. Hoje já somos um pouco assim, com políticos alinhados ideológica e financeiramente com interesses diversos, desde chineses a europeus.

Infelizmente o Brasil é visto apenas como ativo estratégico, o interesse pelo bem estar do nosso povo é zero.

Enfim, é o momento econômico mais delicado do pós-guerra, e os impressores de dinheiro fazendo cara de paisagem. A ver o que vai acontecer.


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    Seus objetivos são educacionais ou recreativos, não configurando sob nenhuma hipótese recomendação de investimento.

    O investidor consciente deve tomar decisões com base em suas próprias crenças e premissas. Tudo que lê ou ouve pode ser levado em consideração, mas a decisão de investimento é sempre pessoal. Tanto na escolha de ações para carteira própria, quanto na escolha de gestores profissionais para terceirização da gestão.

    O Autor espera que os temas educacionais do blog possam ajudar no desenvolvimento e no entendimento das nuances do mercado de ações, mas reitera que a responsabilidade pela decisão de investimento é sempre do próprio investidor.

    Sejam bem vindos!

  • Paulo Portinho

    PAULO PORTINHO, engenheiro com mestrado em administração de empresas pela PUC-Rio, é autor do Manual Técnico sobre o Método INI de Investimento em Ações, do livro "O Mercado de Ações em 25 Episódios" e do livro "Quanto Custa Ficar Rico?", os dois últimos pela editora Campus Elsevier.

    Paulo atuou como professor na Pós-graduação de Gestão Social da Universidade Castelo Branco e na Pós-graduação oferecida pela ANBIMA de Capacitação para o Mercado Financeiro.

    Atuou como professor da área de finanças e marketing na Universidade Castelo Branco e no curso de formação de agentes autônomos do SINDICOR.

    Como executivo do Instituto Nacional de Investidores - INI (www.ini.org.br) entre 2003 e 2012, ministrou mais de 500 palestras e cursos sobre o mercado de ações, sendo responsável pelo desenvolvimento do curso sobre o Método INI de Investimento em Ações, conteúdo que havia chegado a mais de 15.000 investidores em todo o país, até o ano de 2012.

    Representou o INI nas reuniões conjuntas de conselho da Federação Mundial de Investidores (www.wfic.org) e da Euroshareholders (www.euroshareholders.org), organizações que congregam quase 1 milhão de investidores em 22 países.

    Atuou como articulista do Informativo do INI, do Blog do INI, da revista Razão de Investir, da revista Investmais, do Jornal Corporativo e do site acionista.com.br. Foi fonte regular para assuntos de educação financeira de veículos como Conta Corrente (Globo News), Infomoney, Programa Sem Censura, Folha de São Paulo, Jornal O Globo, entre outros.

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