Investir diretamente em ações, Investir em Fundos de Ações ou em Fundos de Índice (ETF´s)

Posted on 14/01/2011. Filed under: Finanças |

O Sr. Aroldo, leitor do blog e experiente usuário do método INI, levantou um questionamento interessante:

– Os fundos de índice (ETF´s) são carteiras diversificadas que reinvestem automaticamente os dividendos. Qual sua semelhança com o Método INI?

Para relembrar, a parte comportamental do Método INI sugere comprar pouco e sempre, e reinvestir todos os ganhos.

Dada a amplitude do tema, em vez de responder-lhe diretamente, faço um breve post sobre o assunto.

Investir diretamente em ações

Não vou tratar de instrumentos de curto prazo. Falo apenas dos indivíduos que querem montar uma carteira de ações de longo prazo buscando melhorar a rentabilidade de seus investimentos.

Essa modalidade não é para todos os perfis.

E aqui não se trata de perfil de investidor (conservador, moderado e arrojado), mas de características de personalidade MESMO.

Para sentir-se confortável nesse tipo de investimento, o indivíduo (exceto trader) precisa gostar de aprender sobre economia, sobre as companhias e seus fundamentos, sobre múltiplos fundamentalistas, sobre desenvolvimento do país etc.

É preciso que queira e se sinta à vontade lendo relatórios de resultados, análises feitas por terceiros, jornais, revistas etc.

Esse investidor olha as companhias, a conjuntura, a economia, a política econômica e isso faz parte, naturalmente, de seus interesses diários, de conversas com amigos etc.

O Método INI é apenas um conjunto de ferramentas fundamentalistas que oferece um caminho para seleção de empresas de crescimento e de valor, mas ele, sozinho, não vai fazer o perfil autônomo do investidor.

Essa tendência e preferência pela autonomia é dele, de sua própria personalidade.

Investir em fundos de ações

Muita gente pensa que os fundos de ações são os instrumentos certos para quem não tem aquele perfil autodidata, que quer aprender e fazer por si mesmo, mas isso é uma meia-verdade.

Apesar dos fundos de ações terem gestão terceirizada, ou seja, o investidor entrega seu patrimônio para um profissional, está longe de ser verdade que a escolha do fundo não requeira TAMBÉM um investimento de tempo, de investigação, de leitura e de conhecimento.

Nos EUA, a NAIC (www.betterinvesting.org) tem uma ferramenta específica para a seleção de fundos mútuos (em 2005 eram mais de 17.000 opções).

E o método é tão ou mais complexo do que o Método INI, pois é preciso saber:

  • Histórico de rentabilidade do fundo
  • Estratégia de gestão
  • Rotatividade do gestor (turnover de pessoal)
  • Giro de carteira
  • Relação entre corretagem e taxa de administração

Esses são apenas alguns dos itens relevantes para escolher um fundo “vencedor”.

Nos últimos anos, entre 2004 e 2009, foram raros os fundos que bateram o índice Bovespa por mais de 4 anos em seqüência.

E as explicações são muitas. Primeiro por conta dos custos de administração e de corretagem (dependendo do giro), segundo porque o índice NÃO É BEM DIVERSIFICADO, e é dependente de commodities que subiram exageradamente entre 2004 e 2009.

Nenhum fundo diversificado teria Petróleo, Mineração e Siderurgia correspondendo a 60% da carteira.

Mas ATENÇÃO! Já em 2010, a média de retorno dos FIA foi MUITO superior à da bolsa, mesmo pagando os custos. A bolsa ficou com algo em torno de 1% e os fundos com algo em torno de 11% (ver post sobre clube Stratocaster).

Aqui fica um comentário sobre o Clube de Investimentos Pioneiro de Brasília, que é o mais rigoroso seguidor do método INI de que temos conhecimento. Um clube que chega a ter reuniões com 150 pessoas e decide somente e exclusivamente pelo Stock Selection Guide.

Nos anos mais difíceis para os fundos (de 2004 a 2007), quando todos perdiam do índice, eles bateram o mesmo, e com uma elevada taxa de administração (3% ao ano).

Parabéns aos meus amigos Jaime, Victor e Imperatori!

Investir em ETF´s (fundos de índice)

Recebemos o pessoal da Barclays (hoje os Ishares estão na Black Rock) para uma apresentação dos fundos de índice BOVA11 e outros.

A estratégia deles é obter uma rentabilidade muito próxima da rentabilidade do índice em que se espelham, o que parece simples, mas é dificílimo, do ponto de vista operacional.

Outro ponto é garantir quem o preço do BOVA11 espelhe o “preço” do índice TODOS OS DIAS, TODAS AS HORAS! Não quero entrar em detalhes, mas é um trabalho absurdamente complicado.

Não é só comprar as mesmas ações do índice. É dar liquidez SEMPRE.

Bom, o resultado, no mundo ao menos, é notável. O crescimento da participação dos fundos de índice no exterior é exponencial.

E isso tem uma explicação simples. São investimentos que, em tese, garantem o índice, com custos comparativamente muito mais baixos.

Além disso, é possível investir em Small Caps, Mid Caps etc., com pouco dinheiro.

A forma de comprar essa participação nos ETF´s é também muito simples, semelhante à compra de uma ação no home broker.

Esse instrumento, para quem REALMENTE não quer ter trabalho de selecionar as empresas ou os fundos (FIAs), caiu como uma luva em suas ambições de investidor TOTALMENTE passivo.

Cuidado com o índice!

Aqui vale um alerta importante.

O índice não é uma carteira de qualidade, mas de quantidade. As empresas não estão lá, diretamente ao menos, por serem boas e por terem dado bons lucros, mas porque tiveram muito negociação.

É claro que podemos esperar, no médio prazo, que as vencedoras tornem-se as prediletas e, consequentemente, tenham muito volume, mas há um delay importante nesse prazo.

Vejam o exemplo da Petrobras e do Ibovespa 2010. O índice apanhou feio dos fundos em 2010, pois seu principal papel teve um desempenho pior que a média.

Quem investiu em índice em meados da década de 1990 e início dos anos 2000 ficou à mercê da teles. Enquanto que os fundos que investiram em commodities cresceram (ou deveriam ter crescido) muitíssimo mais.

Por fim…

Não existe “O” investimento certo. Existe você. Descubra seu perfil, suas vontades em onde se sente confortável. É sempre o primeiro passo. Mesmo que leve anos. E se for levar anos, é melhor começar hoje…

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17 Respostas to “Investir diretamente em ações, Investir em Fundos de Ações ou em Fundos de Índice (ETF´s)”

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Olá,

Gostaria de lançar para reflexão um tema sobre ETFs que até o momento não foi abordado em nenhum daqueles que considero os principais blogs de finanças voltados a pequenos investidores (HC, valores reais, pequeno investidor, portinho, dentre outros). Esta mesma mensagem será postada em cada um destes blogs tanto para suscitar um debate na comunidade como também para, quem sabe, alguém apontar algum erro na minha lógica.

Então vamos lá,

Apesar de todas suas vantagens (diversificação, reinvestimento de dividendos, resultados satisfatórios com pouco esforço, baixos custos), O ETF TEM COMO GRANDE DESVANTAGEM O PAGAMENTO DE IR SOBRE O VALOR DOS DIVIDENDOS.

Cuma????????

Vamos pensar em duas carteiras diferentes, uma com 1.000 ações no valor de R$ 1,00 outra com 1.000 ETFs com cotas de R$ 1,00.

Apenas para simplificar a comparação, vamos pensar que tanto as ações como os ETFs se refiram a ações que tenham lucros constantes, dividendos constantes e que, por este motivo, seu preço permaneça constante. Sei que estas condições não existem no mundo real, mas a adoção de dados reais, apesar de gerar resultados diferentes, não irá interferir no ponto que estou abordando. Quem quiser tirar a prova pode tentar fazer os cálculos com a compra de ações do Ibovespa e com o Bova11 e postar aqui o resultado.

Se a cada ano as mil ações renderem em dividendos o equivalente ao preço de 100 novas ações e estes dividendos forem sempre reinvestidos, ao final de dez anos o investidor teria 2.593 ações e um patrimônio de R$ 2.593,00

Como estas ações são entendidas pelo Fisco como patrimônio e não renda, o IR que o investidor pagaria sobre a venda delas incidiria apenas sobre a diferença entre o preço de compra e o de venda, que no nosso caso teórico seria o mesmo.

Já com o ETF, a situação seria completamente diferente.

Quem começou com 1.000 ETFs ao final de dez anos continuaria com 1.000 ETFs.

Porém, como os ETFs correspondem a cotas de um fundo que se valoriza pela retenção e reinvestimento de dividendos, o valor da cota de cada ETF será consideravelmente superior.

No exemplo teórico das ações que não oscilam e pagam um DY 10% a.a., as cotas de cada ETF passariam a valer R$ 2,59, e os 1000 ETFs R$ 2593,00.

Até aqui tudo igual.

Porém, na hora de recolher o IR sobre uma venda, a valorização da cota do ETF advinda exclusivamente do reinvestimento destes dividendos (R$ 1.593,00) seria incorretamente vista como ganho patrimonial, e, por esta razão, ficaria sujeita à alíquota de 15% de IR.

Pagos os impostos, o que restaria líquido ao investidor seria o equivalente a R$ 2.354,00.

Não sei se fui claro, mas se o meu raciocínio estiver correto, esta seria uma segunda desvantagem tributária de se investir em ETFs (a primeira seria a de não gozar da isenção para vendas de até R$ 20.000,00 por mês).

Colocando tudo na ponta do lápis, o investimento em ETFs talvez não seja tão interessante assim.

Já havia pensado sobre esta desvantagem? Qual sua opinião sobre o assunto.

Abraços e parabéns pelo blog.

Foi claro sim.
Eu não conheço bem o mecanismo dos ETF´s, mas em clubes isso gera muita discussão.
Há uma hipótese de não pagar IR sobre os dividendos, seria AUMENTAR o número de cotas, em vez de aumentar o VALOR das cotas.
Mas nos clubes eles aumentam o valor das cotas, o que é ruim.
Outro problema é que na carteira própria você pode vender até R$ 20.000 sem IR, o que não é possível em fundos, nem em ETFs (apesar de alguns investidores não saberem disso).
O ideal seria que o FISCO desse as mesmas condições:
– Dividendos aumentando o número de cotas (emissão de novas cotas, como se fossem aportes)
– Permitir a mesma isenção mensal
Mas não é o caso.
Você está correto, o modelo tributário desestimula o investimento em fundos.
[]
Portinho

Parabens pelo post, ótimas explicações. Agora uma duvida: entre Bova11 e pibb11 existem diferenças na gestão? Pois atualmente são os ETF’s mais amplos disponíveis para pequenos investidores. Existe algum risco maior em algum deles?
Abraço.

Oi Afranio,
O BOVA11 faz parte de uma linha de ETF´s reconhecida em todo o mundo. As técnicas são mais dinâmicas que as do PIBB11.
Para investidores de longo prazo, talvez as diferenças não sejam muito grandes, mas para quem quer movimentar em períodos menores (meses ou até 2 anos), o BOVA11 tem o compromisso de garantir liquidez e “proximidade” diária com o índice.
Acompanhe os dois diariamente que você verá quem o BOVA11 tem mais aderência ao índice que o PIBB11.
[]
Paulo

[…] continuidade ao post Investir diretamente em ações, Investir em Fundos de Ações ou em Fundos de Índice (ETF´s), trato um pouco do aspecto […]

“O índice não é uma carteira de qualidade, mas de quantidade”. O Ibov é igual ao blog do Portinho. Não é um Blog de quantidade, mas de qualidade (mas vai ser o dois em breve!). Posts realmente educativos.

Um outro aspecto que gostaria que você comentasse diz respeito à diferença de tributação para os ETF´s. Segundo me informei os mesmos não gozam da isenção de IR para movimentação de até R$ 20.000,00 no mês. Isso é correto?
Um abraço e parabéns pelo Blog,

Hiraclis

Caro Hiraclis,

Essas questões tributárias são muito complexas, mas tentei clarear alguns pontos no último post. Peço que leia sua resposta completa lá.

Abraço e obrigado pela pergunta,
Paulo Portinho

Obrigado pela explicação,Portinho.
Ela realmente foi completa.
Atenciosamente,
Aroldo

Boa tarde, eu só sei que em todos os comentários sobre formas de investimentos, carteiras, índices e ai vai, todos os profissionais terminam dizendo só depende de você, descubra seu perfil, as decisões tomadas com base nesses informações não são de responsabilidades de seus autores, etc, etc, etc . . . . Acredito que faltam orientações concretas e decisivas para os investidores leigos.

Caro Anderson,
Essa sua percepção está correta, no que se refere à análise fundamentalista. Mas os motivos são de ordem legal. O disclaimer constante em cada análise é uma exigência do regulador e também uma forma de evitar ações na justiça por eventuais perdas dos investidores.

Mas, se me permite discordar parcialmente, há uma infinidade de orientações concretas e decisiva aos investidores.

O que mais existe no mercado são instrumentos de apoio ao trade. Qualquer corretora tem um hotline com um analista técnico, um conjunto impressionante de ferramentas para giro e um blog ou fórum de dicas sobre AT.

Há ainda indicações de “carteiras para a semana, para o mês, para o ano” em todos os jornais e sites e partindo de todas as corretoras.

Na minha opinião são indicações vazias do ponto de vista educacional, mas são diretíssimas.

Criei o blog com objetivo educacional apenas, não atuo como analista ou como gestor de carteira, trabalho como professor de finanças, escritor, pesquisador e em outras atividades ligadas à educação.

Agradeço pelo comentário, pois me deu espaço para explicar essas nuances,

Forte abraço,
Paulo Portinho

Portinho, estou acompanhando os temas. Parabéns, por mais este. Eu estou começado agora e tenho buscado informação na internet de tudo que posso. Mas eu preciso de dicas mais diretas, sugestões de papéis para fomar carteira de ações, como investimento de longo prazo. Estou interessado no método INI, para escolha de papeis. Obrigado. Rodrigo

Caro Rodrigo,

O Método INI está à disposição no site http://www.ini.org.br. Os livros já estão disponíveis na área de Download Center.

Quanto às dicas, você sempre as terá, em abundância, basta acessar os sites que reverberam as carteiras das corretoras.

Mas creia-me e releia a paródia do Jaguar XJ12. Ganhar sem saber o motivo é o mesmo que perder sem saber o motivo.

Nem sempre analistas acertam. Quase sempre os objetivos pessoais do investidor não estão contemplados nas indicações.
Por isso reforçamos a idéia de que só a educação e o conhecimento vão lhe ajudar no sucesso financeira.

O resto é sorte, mesmo que acompanhe as dicas diárias dos sites.

Abraço!
Portinho

Caro Portinho,

Parabéns por mais um post bem estruturado. Você finalizou com o que sempre digo aos meus amigos. Investimentos depende de nossas caracteristicas. Agora se for para ser trader, ai sim, precisamos mudar o jeito de pensar. Quando falo aos mus amigos, digo a eles, coloquem uma meta e um objetivo, independente do investimento.

Mais uma vez parabéns.

Rodney

Obrigado Rodney.

[…] Investir diretamente em ações, Investir em Fundos de Ações ou em Fundos de Índice (ETF´s) […]


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  • Disclaimer

    Este blog é um ambiente privado para expor opiniões, estudos, reflexões e comentários sobre assuntos ligados a finanças, bolsa de valores, economia, política, música, humor e outros temas.

    Seus objetivos são educacionais ou recreativos, não configurando sob nenhuma hipótese recomendação de investimento.

    O investidor consciente deve tomar decisões com base em suas próprias crenças e premissas. Tudo que lê ou ouve pode ser levado em consideração, mas a decisão de investimento é sempre pessoal. Tanto na escolha de ações para carteira própria, quanto na escolha de gestores profissionais para terceirização da gestão.

    O Autor espera que os temas educacionais do blog possam ajudar no desenvolvimento e no entendimento das nuances do mercado de ações, mas reitera que a responsabilidade pela decisão de investimento é sempre do próprio investidor.

    Sejam bem vindos!

  • Paulo Portinho

    PAULO PORTINHO, engenheiro com mestrado em administração de empresas pela PUC-Rio, é autor do Manual Técnico sobre o Método INI de Investimento em Ações, do livro "O Mercado de Ações em 25 Episódios" e do livro "Quanto Custa Ficar Rico?", os dois últimos pela editora Campus Elsevier.

    Paulo atuou como professor na Pós-graduação de Gestão Social da Universidade Castelo Branco e na Pós-graduação oferecida pela ANBIMA de Capacitação para o Mercado Financeiro.

    Atuou como professor da área de finanças e marketing na Universidade Castelo Branco e no curso de formação de agentes autônomos do SINDICOR.

    Como executivo do Instituto Nacional de Investidores - INI (www.ini.org.br) entre 2003 e 2012, ministrou mais de 500 palestras e cursos sobre o mercado de ações, sendo responsável pelo desenvolvimento do curso sobre o Método INI de Investimento em Ações, conteúdo que havia chegado a mais de 15.000 investidores em todo o país, até o ano de 2012.

    Representou o INI nas reuniões conjuntas de conselho da Federação Mundial de Investidores (www.wfic.org) e da Euroshareholders (www.euroshareholders.org), organizações que congregam quase 1 milhão de investidores em 22 países.

    Atuou como articulista do Informativo do INI, do Blog do INI, da revista Razão de Investir, da revista Investmais, do Jornal Corporativo e do site acionista.com.br. Foi fonte regular para assuntos de educação financeira de veículos como Conta Corrente (Globo News), Infomoney, Programa Sem Censura, Folha de São Paulo, Jornal O Globo, entre outros.

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